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11/03/2015

 

7. 

ASPECTOS ESTÁTICO, DINÂMICO E MECÂNICO DO UNIVERSO 

 

O Multiverso com seus universos.






Chegados a este ponto, podemos estabelecer, em suas grandes linhas, os conceitos fundamentais que depois desenvolveremos analiticamente.

 





Não vos digo:  

observemos os fenômenos e deles deduzamos as consequências e lhes procuremos o princípio; 

mas vos digo, o quadro do universo é este: 

observai e vereis que os fenômenos aí se encaixam e a ele correspondem, em sua totalidade. 

O universo é a unidade que abarca tudo o que existe. Essa unidade pode ser considerada sob três aspectos: 

estático, dinâmico e mecânico.

Em seu aspecto estático, a unidade-todo é considerada abstratamente seccionada em um átimo de seu eterno devenir, para que vossa atenção possa observar particularmente a estrutura, mais que o movimento. Como estrutura, o universo é um organismo, ou seja, um todo, composto de partes, não reunidas ao acaso, mas com ordem e proporção recíproca; mesmo que momentânea e excepcionalmente possa ocorrer o contrário, sempre se correspondem entre si, como é necessário num organismo cujas partes, ao funcionarem, devem coordenar-se num objetivo único.

Em seu aspecto dinâmico a unidade-todo é considerada naquilo que verdadeiramente é:  


um eterno devenir. 

O universo é um movimento contínuo. Movimento significa trajetória; trajetória significa um objetivo a atingir. Na realidade, o aspecto dinâmico se funde com o estático, isolamo-lo apenas para facilitar as observações. O movimento é orgânico, é funcionamento de partes coordenadas. Assim se define o conceito de simples movimento e se completa num vir-a-ser mais complexo, que já não é só movimento físico, mas transformismo fenomênico; o conceito de trajetória complica-se num mais amplo progresso à meta definida.

O aspecto mecânico é apenas o conceito de movimento abstratamente isolado, a fim de poder analisá-lo melhor, colhendo o princípio e definindo a lei, por meio do estudo da trajetória-tipo dos movimentos fenomênicos. É o estudo da lei como forma e norma do devenir.

Resumindo:

O aspecto estático mostra-nos o universo em sua estrutura e forma; o aspecto dinâmico, em seu movimento e vir-a-ser; o aspecto mecânico, em seu princípio e em sua lei. Mas esses são somente aspectos, pontos de vista diferentes do mesmo fenômeno. Coexistem sempre, em toda parte, e os encontramos conexos.

Do exame desses três aspectos surge a ideia gigantesca que domina todo o universo. Quer o observemos como organismo, como devenir, ou como lei, chegaremos ao mesmo conceito por três estradas diferentes, que se somam e reforçam a conclusão. Ascendemos, assim, ao Princípio Único, à idéia central que governa o universo. Esse princípio, essa idéia, é ordem. Imaginai, se a ordem não reinasse soberana, que choque tremendo sofreria um funcionamento tão complexo como é o da criação, um transformismo que jamais pára! Somente esse princípio pode estabilizar um movimento de tamanha vastidão. 

Cada fenômeno, ...


Cada fenômeno, em cada campo, tem uma trajetória própria de desenvolvimento, que não pode mudar, é sua lei, coordenada à lei maior; tem uma vontade de existir numa forma que o individualize e de mover-se para atingir u’a meta exata, razão de sua existência; é lançado com velocidade e massa que inconfundivelmente o distingue entre todos os demais fenômenos. Como poderia tudo mover-se sem precipitar-se num cataclismo imediato e universal, se cada trajetória não tivesse sido já traçada inviolavelmente? 

Não podeis deixar de encontrar esse princípio de uma lei soberana, em toda parte e a qualquer momento. Vossa vida individual, vossa história de povos, vossa vida social têm suas leis. Vossas estatísticas, pelo princípio dos grandes números, colhem-nas e podem dizer-vos quantos nascimentos, mortes ou delitos acontecerão aproximadamente nos anos seguintes. Também o campo moral e espiritual tem suas leis; embora sua complexidade vos faça perder o rastro, a lei subsiste também nesse campo, matematicamente exata. Não vos falo de fenômenos biológicos, astronômicos, físicos ou químicos. Se podeis mover-vos, agir e conseguir qualquer resultado, é porque tudo em torno de vós se move com ordem, de acordo com uma lei, e nessa lei tendes sempre confiança porque só ela vos garante a constância dos efeitos e das reações. 

Lei não inexorável, não sensível, mas complexa, extraordinariamente complexa em todo o entrelaçamento de suas repercussões; uma lei elástica, adaptável, compensadora, construída com tão vasta amplitude, que abarca em seu âmbito todas as possibilidades. Lei, sempre lei, exata nas consequências de qualquer ato, férrea nas conclusões e sanções, poderosa, imensa, matematicamente precisa em sua manifestação.

Ela é ordem e, como ordem, mais ampla e poderosa que a desordem, portanto, engloba-a e a guia para suas metas; ela é equilíbrio, mais vasto que o desequilíbrio, o qual abarca e limita num âmbito intransponível. Equilíbrio e ordem são, também, o Bem e a Alegria. Em todos os campos, uma só é a lei. A alegria é mais forte que a dor, que se torna instrumento de felicidade; o bem é mais poderoso que o mal, ele limita e o constringe para os seus objetivos. Se existem desordem, mal e dor, só existem como reação, como exceção, como condição, como contragolpe fechado dentro de diques invisíveis, determinados e invioláveis. 

Esta é a verdade, embora seja difícil demonstrá-la à vossa razão, que observa a matéria. Esta, por estar à distância máxima do centro da causa primeira, é o que há de menos apto para revelar-vos essa causa; embora contendo em si todo o princípio, esconde-o mais secretamente em seu âmago. Não confundais a ordem e a presença da Lei com um automatismo mecânico e um fatalismo absurdo. 




A ordem, vo-lo disse, não é rígida, mas apresenta espaços elásticos, contém subdivisões de desordem, imperfeição, complica-se em reações, mas permanece ordem e lei no conjunto, no absoluto. Um exemplo:  

em oposição à vontade da Lei, tendes a vontade de vosso livre arbítrio, mas é vontade menor, marginalizada, circunscrita por aquela vontade maior; podeis agitar-vos a vosso bel prazer, como dentro de um recinto, não além dele.

Essa movimentação vos é permitida, porque necessária para que sejais livres e responsáveis no ambiente que vos cerca; possais, assim, com liberdade e responsabilidade, conquistar vossa felicidade. Resolvi (assim de passagem) o conflito que para vós é insolúvel entre determinismo e livre-arbítrio. Estes conceitos levar-vos-ão, posteriormente, a conceber uma exata moral científica.

Comentários de Gilson Freire:

7 - Aspecto Estático, Dinâmico e Mecânico do Universo

Comentando

A observação de nós mesmos nos mostra que somos constituídos de matéria, organizada em órgãos. Temos em nós ainda impulsos elétricos trafegando pelos nervos, potências que nos movem, geram calor, atividade, ânimo e trabalho, portanto podemos considerar que temos em nós o elemento energia. Além disto trazemos uma consciência, que pode ser sentida quando pensamos ou desejamos e, na percepção do nosso próprio eu, uma substância imaterial, feita apenas de conceito, de emoção, de pensamento. 

Aí identificamos uma unidade que chamamos espírito, presente não somente em nós, mas em toda manifestação da vida, como forma de individualização do eu. Portanto, mesmo que não tenhamos uma maneira objetiva de provar a existência do espírito, não podemos negá-lo, pois isto seria negar a nossa própria existência. Assim, chegamos à conclusão de que somos uma unidade ternária formada de matéria, energia e espírito.

E o Universo que nos rodeia, de que está constituído? De matéria, pois esta é inquestionável dada a sua realidade que nos impressiona sobremaneira os sentidos. De energia também que se manifesta por movimentos e irradiações, como a luz e o som, exemplos de manifestações ondulatórias e que também nos impressiona de tal modo os sentidos, que não se pode questionar a sua existência. 

Mas, e o espírito? Podemos identificá-lo no Universo também? Ora, o Universo não é um corpo de leis muito bem identificadas? Ele não traz em si uma grande idéia, idéia geradora de mundos e vida? Claramente vemos nele leis e princípios sempre imutáveis e inteligentes, que normalmente nossa ciência expressa em fórmulas matemáticas. Há portanto no Universo uma idéia que o dirige, que podemos chamar de espírito do Universo. 

Assim, como em nosso corpo, identificamos no Universo a presença dos três estados:  
espírito, energia e matéria.  

Estes estados se inter-relacionam? Haverá algum ponto de união entre eles? Nossa ciência já descobriu que energia e matéria são manifestação de uma mesma substância, ainda não determinada em sua essência e natureza. Haverá uma inter-relação também entre estes e o espírito? Nascerão de uma mesma substância que se transmuta nestas formas conhecidas? Eis o que nos propõe responder a Grande Síntese.

A unidade ternária do Universo

O Universo é uma unidade ternária, ou seja, pode ser dividido em três partes ou aspectos:  

estático, dinâmico e mecânico.

Aspecto Estático

Neste aspecto a unidade-todo é considerada na estrutura material que o compõe, isto é, as suas partes. Partes essas que se correspondem e coordenam-se em um objetivo comum, formando um organismo. Portanto temos aqui matéria, estrutura ou forma do Universo.

Aspecto Dinâmico

Aqui identificamos o seu movimento, o vir-a-ser. Movimento que pressupõe trajetória, finalidade, transformismo. Movimento que coordena as partes em um funcionamento harmônico, em objetivos comuns. Temos aqui a energia, as irradiações, o dinamismo do Universo.

Aspecto Mecânico

O Universo é um conjunto de leis e princípios, configurando o seu aspecto mecânico, lembrando que o termo “mecânico” aqui é definido como “a ciência que trata das leis do movimento e do equilíbrio”. Temos aqui o espírito, a idéia, a inteligência do Universo.

Três aspecto sempre coesos – a unidade do Universo

Estes três aspectos não se acham isolados, mas em toda parte estão coesos e conexos. Esta é a idéia que domina todo o nosso Universo e se expressa em todos os seus fenômenos, em todos os seus reinos: 

biológico, astronômico, físico ou químico. 

Este é a unidade que permeia o Universo, a grande idéia central que o governa.

A unidade é ordem

A unidade do Universo se manifesta sobretudo como ordem, porque o primeiro aspecto, o princípio, a idéia, se manifesta como ordem. Ordem essa que coordena e coloca em seu próprio lugar todos os fenômenos de nosso cosmo, de modo que cada um tenha sua própria trajetória, dada pelo princípio dinâmico. A vontade de existir, de mover-se, de individualizar-se e de atingir uma meta é orientada por essa ordem.

A lei se adapta a cada fenômeno e às suas necessidades. Além de adaptável é compensadora, abarcando todas as possibilidades da substância. É ordem, mais poderosa do que toda desordem. É equilíbrio, alegria, bem. A desordem, o mal e a dor somente existem como pacotes isolados de desordem dentro da ordem, como reações isoladas.

Determinismo e livre-arbítrio

A ordem e a lei não pressupõem um determinismo fatalista e inviolável. A ordem não é rígida e admite espaços de elasticidades onde a desordem pode se manifestar. A desordem se manifesta em formas de pacotes limitados, encerrados dentro de suas unidades dimensionais e coordenados dentro de uma ordem maior. 

Assim é que dentro do caos do cosmos infra-atômico se constrói a ordem aparente de nossa matéria macroscópica. É assim que dentro da ordem da vida, podemos nos manifestar como desordens temporárias, dentro dos limites de nosso raio de ação. De modo que o livre-arbítrio está sempre contido por um determinismo, que se dilata à medida que a evolução se processa.