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25/06/2015



71. 

O FATOR PSÍQUICO NA TERAPIA





Este quadro de equilíbrios íntimos abre-nos a porta para algumas observações de caráter terapêutico, antes de tudo no campo bacteriológico. 








Vós exagerais na anti-sepsia, no sentido profilático. O organismo humano é formado e sempre viveu, num mar de micro-organismos patogênicos, tanto que a assepsia, ou estado asséptico, na natureza, é condição anormal. 

Ora, a imunidade é produzida pelo equilíbrio obtido pelas resistências orgânicas. Em intermináveis períodos de evolução, estabilizou-se esse equilíbrio entre ataque e defesa. 

Ao matar o micróbio, perturbais o equilíbrio da vida, em que também o inimigo tem sua tarefa, colocando-vos em condições anormais; cabe-vos, e deveis defender e manter tal equilíbrio. Sabeis que a função cria a capacidade. 

Ao suprimir a luta, suprimis também aquele contínuo excitador de reações que é o assalto dos micróbios; ganhais uma saúde presente levantada a crédito sobre a saúde do futuro; uma vitória fictícia, obtida às custas da resistência orgânica porque, por lei natural, o organismo perderá, por falta de uso, suas capacidades defensivas, tornando-se impotente para defender sua vida. 



É evidente que a proteção artificial, atrofiando a capacidade de defesa, age em prejuízo da seleção. Já foi verificado que, quanto mais se dão remédios, quer às plantas, quer aos animais, também cresce o número de suas enfermidades (saprofitismo). A luta forma e mantém a resistência orgânica, prêmio de infinitas quedas e esforços. 

Os equilíbrios da natureza são profundos e perturbá-los produz novos desequilíbrios. No choque constante dos contrários, produz-se uma estabilidade, um acordo, uma espécie de simbiose, útil, no fim das contas, a ambas as partes. 

O inimigo torna-se necessário ao homem, porque a reação gerada pelo assalto é a base de sua resistência orgânica. Deslocar o ritmo compensado das relações e permutas, que se estabeleceram nos milênios, significa o nascimento de novas doenças, é transformação, não solução do problema. 



Em vista das concepções limitadas de uma ciência utilitária, que disso fez seu objetivo principal, nasceu a ilusão de que é possível suprimir a luta, isso em todos os campos, inclusive no moral (a dor), como se o esforço da vida fosse uma imperfeição que deve ser superada e não um fator fecundo, necessário, substancialmente colocado no funcionamento orgânico do universo. Só uma coisa pode justificar tudo isso: é a transferência do campo de luta para um plano mais alto.
 
A supressão de um esforço e sua relativa conquista só são justificados pela substituição de um esforço mais elevado, dirigido a conquistas superiores. De fato, assim ocorre. A luta física e orgânica está se transformando em luta nervosa e psíquica.
 
A medicina devia ter em grande consideração o fator psíquico, não apenas no campo específico da psicoterapia, mas como fator de importância decisiva em cada caso e a cada momento. 

O materialismo imperante, absorvido apenas pela visão do lado material da vida, não podia ver o aspecto mais profundo, o espiritual. Ele, sem dúvida, produziu e criou, mas agora é necessário ultrapassar esse tipo de ciência. 

No entanto, ainda subsiste aquela psicologia que, por inércia dos centros de cultura, influencia o pensamento oficial, e fala das cátedras do mundo civil. Está na hora de continuar o caminho percorrido até aqui pela ciência materialista, mas com uma ciência espiritualista. 

Pois o espírito, como vedes, não é fenômeno abstrato, isolado ou isolável, relegável ao campo da ética e da fé, porque invade todos os fenômenos biológicos, é fundamental em fisiologia, patologia e terapia. O vibrante dinamismo vital está todo permeado dele. 

Menos anatomismo e mais psiquismo, não apenas invocado no estudo das neuroses, mas mantido sempre presente em toda a disciplina médica. O fator moral é importante e, se descuidado, pode deixar morrer o doente, mais do que a falta de cuidados materiais. Aos hospitais desteis ar, luz, higiene, limpeza. 

No entanto, são frios como gelo. Pensai que nesses lugares de dor, não há apenas o corpo de um animal, mas sobretudo a alma de um homem. Há mais necessidade de flores, de música, sobretudo de palavras sinceras e afetuosas, de bondade, do que de análises microscópicas e radioscópicas, de esterilizantes e de ostentação de ciência. 



O estado de alma, sobre o qual repousa o segredo do metabolismo, portanto, da cura, é desprezado. Mesmo em matéria de infecção, o espírito influi muitas vezes, mais do que a esterilização do ambiente. 

Pensai que o equilíbrio orgânico é mera consequência do equilíbrio psíquico, com o qual mantém estreita relação; porque é o estado nervoso que determina e guia as correntes elétricas e são estas que presidem à contínua reconstrução química e energética do organismo. 

Se elas tomam direção diferente; se a corrente positiva, ativa e benéfica inverte-se numa corrente negativa, passiva e maléfica; se a um estado psíquico de confiança e de bondade, substitui-se por outro de depressão e má vontade, então, em lugar de saúde, o impulso gerará doença; em lugar de desenvolvimento, regresso; em lugar de alimento, intoxicação; em lugar de vida, morte.
 
Essa alma misteriosa, que permeia tudo, emergirá futuramente da sombra como um gigante; a ciência determinará sua anatomia, seu funcionamento, sua evolução. A nova medicina levará para os primeiros planos o fator psíquico e enfrentará o estado patológico não mais como agora, com meios coativos mais ou menos violentos. 





A correção do estado anormal, a retificação do funcionamento arrítmico não é conseguido apenas agindo de fora, procurando penetrar no organismo com meios físico-químicos, mas procurará enxertar-se em seu íntimo transformismo, secundando as vias naturais do psiquismo dominador das funções. 

Não será mais um choque brutal, pela introdução de compostos químicos, muitas vezes de reações antivitais, mas será uma correnteza que se fundirá na correnteza da vida; será dinamismo benéfico, que retificará o dinamismo desviado. 

Administrando substâncias, não podeis saber que condições químicas antitéticas elas possam encontrar, que reações diferentes possam excitar nas tão diversas condições orgânicas dos indivíduos. Há atrações e repulsões, limites de tolerância, totalmente pessoais. Prudência com essa química violenta e igual para todos!
 
Um caminho mais pacífico para penetrar na corrente vital é o caminho psíquico. O funcionamento orgânico obedece àquela instintiva sabedoria, que se fixou em longuíssimas experiências no subconsciente. 

Este fraciona-se em várias almas menores instintivas, que executam, sem o saberdes, o trabalho específico de cada órgão. A consciência pode, por via sugestiva, dar ordens e elas serão executadas, como por um animal domesticado. O caso do trauma psíquico demonstra-vos a realidade dessas influências. 

Aí está como, por vias psíquicas, podem-se abrir ou fechar as portas aos assaltos patogênicos, reavivando ou paralisando as defesas orgânicas. Assim, não se matam os micróbios, mas se reforçam as resistências e são obtidos resultados que superam os da mais escrupulosa assepsia. 

Porque a patogênese não depende tanto das condições ambientais, quanto a vulnerabilidade específica individual, que predispõe à doença e na qual influi largamente o estado psíquico.