Páginas

06/04/2015


28. 

O PROCESSO GENÉTICO
DO COSMOS

 



Formação de Estrutura em um Universo LCDM.


Ilustremos, agora, tudo isso, com exemplos. Tal como fizemos antes com o conceito do retorno cíclico, que reconduz a espiral a seu caminho, façamos agora com este conceito do desenvolvimento da espiral maior, produzido pelo desenvolvimento da espiral menor. 















Notemos que, se a linha da criação não é a reta, mas a espiral, isto é devido ao fato de que esta é a linha de menor resistência e de maior rendimento. Tratando-se de realizar um complexo trabalho de destruição e reconstrução, a espiral é a linha mais curta, no sentido de que responde mais imediatamente à lei do mínimo esforço, pela qual se obterá o máximo efeito com o mínimo trabalho. 

No universo estelar, onde tudo acontece por atração, isso ocorre sempre por curvas. Até no nível físico vedes que a linha do menor esforço, lei universal, não é a reta, mas a curva, que responde a um equilíbrio mais complexo e é o caminho mais curto no sentido mais completo, não o espacial, em que vos isolais e limitais vossa concepção de reta.





 

No nível físico vedes, nos movimentos estelares e planetários, a coordenação dos ciclos menores com os maiores, expressão visível do princípio dos ciclos múltiplos. Também o encontramos junto com o outro, o do retorno cíclico, nos fenômenos mais próximos de vós. Observai o círculo pelo qual passam as águas, do estado de chuva ao de rio e de mar e, por evaporação, voltam ao estado de nuvens e chuva; um ciclo contínuo, idêntico, no entanto, a cada rotação muda um pouco, e vai amadurecendo um ciclo maior, o da dispersão das águas por absorção na terra e difusão nos espaços; ciclo que caminha para a lenta morte do planeta. O ciclo volta sobre si mesmo, mas sempre com pequeno deslocamento progressivo de todo o sistema.
 
Observai, em vosso mundo químico, como os elementos que constituem vosso organismo, provêm da terra, introduzidos no círculo pela nutrição, e voltam à terra pela morte. Sempre o mesmo material e o mesmo ciclo, mas que se desloca lentamente ao longo da trajetória do ciclo maior, na transformação da espécie. Observai o ciclo de vosso metabolismo orgânico e como ele constitui função de longa cadeia de ciclos. 

Vosso corpo é uma corrente de substâncias, que tomais de outros seres plasmófagos (animais), que por sua vez os tomaram de seres plasmódomos (as plantas), as quais, finalmente, operam a síntese orgânica das substâncias protéicas do mundo da química inorgânica da terra e do mundo dinâmico das radiações solares. Vosso pensamento é um ciclo mais alto, que se alimenta dessa cadeia, porque não poderia ele subsistir em vosso cérebro sem restauração física e dinâmica. 

Vosso funcionamento psíquico está, assim, em relação com processos químicos de vosso organismo, do organismo dos animais de que vos nutris, das plantas de que os animais se alimentam, dos processos químicos da própria matéria, de que os processos de síntese vital das plantas são apenas uma consequência.

Os ciclos têm de caminhar inexoravelmente, e basta que um deles pare, para que toda a cadeia, também pare e se quebre. Todo o ciclo da energia mecânica e psíquica, que se desenvolve no organismo humano, está em estreita relação com o ciclo da energia química dos elementos que configuram um círculo, pelas suas reduções, hidrólises, oxidações,sínteses e processos afins. Quando a molécula de um corpo químico introduz-se por assimilação no organismo protoplasmático da célula, o ciclo do fenômeno atômico entra, através do ciclo do fenômeno molecular de que faz parte, no ciclo maior do fenômeno celular. 



No mundo das substâncias proteicas, a química do mundo inorgânico acelera seu ritmo, dinamiza-se, adquirindo em velocidade, o que perde como estabilidade de combinação. A individuação fenomênica não mais assume o aspecto de estase mas se torna, como veremos melhor depois, uma corrente, em que nova química instável e fragílima, de ciclo continuamente aberto, decompõe-se e se recompõe no metabolismo celular, base do recâmbio. Isso ocorre em seus dois momentos: anabólico, da assimilação, e catabólico, da desassimilação, quando atinge os vértices da fase $ \beta $, penetrando na fase a, porque isso implica e significa uma pequena consciência celular que preside às funções de escolha, base do recâmbio, e mantém na corrente deste a individuação do fenômeno.
 
A realidade vos mostra esta íntima transformação do ser, da fase $ \gamma $ à $ \beta $ e desta à $ \alpha $, e como isso ocorre por ciclos contíguos e comunicantes. A assimilação é algo mais que simples filtragem osmótica: é a ponte de passagem de um ciclo para outro, em que a estrutura íntima do fenômeno sofre uma mutação. Através de que complexa cadeia de ciclos tem de passar a matéria, em sua íntima estrutura atômica, para chegar a poder produzir efeitos de ordem orgânica e psíquica! De que número de movimentos cíclicos resulta o fenômeno da consciência humana!
 
Estes exemplos mostravam-vos como em realidade existe o conceito da formação progressiva da trajetória dos ciclos maiores, através do desenvolvimento da trajetória dos ciclos menores.

27. 

SÍNTESE CÍCLICA — 

LEI DAS UNIDADES COLETIVAS E LEI DOS CICLOS MÚLTIPLOS




Compreendido bem este conceito do retorno dos ciclos e sua razão, por meio dessa exemplificação, que vos desmonstra como a realidade corresponde ao princípio que vos expus, podemos agora levantar o olhar para um horizonte ainda mais amplo. Antes de proceder a essa exemplificação demonstrativa, já acenamos que o resultado final do abrir-se e fechar-se da espiral pode ser expresso (fig. 4) por uma espiral maior, em constante expansão. 












Agora pode dar-se a essa expressão sintética do fenômeno, uma expressão ainda mais resumida. Considerando o progredir dessa linha maior ao longo da abscissa vertical, vemos que a cada quarto de giro ela cobre a altura de uma fase (fig. 4). Dessa forma, a coordenada das fases -y +x resume, em seu traçado, todo o movimento da espiral e eleva-se com a expansão desta.

Podemos, agora, construir o diagrama da fig. 5. 




A linha maior, em expansão constante, que exprime o progresso da evolução, está aqui traçada simplesmente, abandonando as fases de retorno, expressas no diagrama da fig. 4. 



Ela é vista na pequena espiral da esquerda. 



A abscissa vertical não é mais uma reta, mas uma curva e parte de uma espiral maior, ao longo de cujo traçado escalonam-se as fases sucessivas -y, -x, $ \gamma $ etc. A síntese de todo o movimento evolutivo da primeira espiral é dada, assim, não pelo prolongamento retilíneo da vertical, mas pelo desenvolvimento de uma espiral maior, também de abertura constante. As fases sucessivas, segundo as quais ela avança, são de amplitude maior. Abarcarão, por exemplo, ao invés de uma das fases $ \alpha $, $ \beta $, $ \gamma $ etc., uma criação inteira ou uma série de criações. 



Mas esta espiral maior ascende também segundo uma linha que, igualmente aqui, será uma curva, que faz parte do traçado de uma espiral ainda maior que progride também em abertura constante. O percurso da espiral maior resume em si todo o movimento progressivo da espiral menor que, por sua vez, é produto sintético do movimento de outra espiral menor, assim por diante. 

Desse modo o traçado maior se resume, e é dado por todos os desenvolvimentos menores. O pequeno organiza no grande; o grande é constituído do pequeno. A série das espirais, naturalmente, é ilimitada, cada movimento é decomponível e multiplicável ao infinito — propriedade de todos os fenômenos — mesmo permanecendo idêntico seu princípio. Eis a síntese máxima dos movimentos fenomênicos. O processo avança por um movimento interno de íntima auto elaboração, que liga e une, num modo indissolúvel e compacto, o infinito negativo ao infinito positivo. 

Um mecanismo de exatidão matemática dirige, toda a criação, com a simplicidade de um princípio único e alcançando uma complicação que vos atordoa. Tudo se compenetra, coexiste; tudo, a cada instante equilibra-se; tudo, do mínimo fenômeno até a criação dos universos, encontra em cada ponto, sua justa expressão.

À série de unidades coletivas (pelas quais as unidades menores se organizam em unidades maiores e a tendência à diferenciação que a evolução produz, compensam-se em reorganizações mais amplas, de tal forma que a auto elaboração não desagrega nem pulveriza, mas consolida a estrutura do cosmos), corresponde aqui a série dos ciclos múltiplos

Cada individuação é um ciclo; se tudo o que existe constitui uma individuação em seu aspecto estático, compõe um ciclo em seu aspecto dinâmico de transformação. Na infinita variedade do caso particular, tudo reencontra sua unidade, o princípio único que irmana todos os seres do universo. Assim como cada individualidade maior é o produto orgânico das individualidades menores, assim cada ciclo maior é produzido em seu desenvolvimento pelo dos ciclos menores. 

A evolução do conjunto só pode obter-se por meio da evolução de suas partes componentes: processo de maturação íntimo e profundo. Em cada nível, a qualquer distância, o mesmo princípio, idêntica construção orgânica, idêntico processo evolutivo, idêntica conexão funcional. Como não existe individuação máxima nem mínima, assim também não há ciclo máximo nem mínimo, sem jamais ter fim. O sistema prolonga-se, multiplicando-se, subdividindo-se ao infinito. 



A constituição íntima do ser, a lei de sua transformação é independente da fase de evolução, mas é idêntica no microcosmo tal como no macro cosmo.

A lei das unidades coletivas pode, por isso, transportar-se de seu aspecto estático ao dinâmico. Diz ela: “Cada individualidade é composta de individualidades menores, que são agregados de individualidades ainda menores, até o infinito negativo; por sua vez, é elemento constitutivo de individualidades maiores, as quais são de outras ainda maiores, até o infinito positivo”. Cada organismo é composto de organismos menores e é componente de maiores. 

A lei, repetida em seu aspecto dinâmico na lei dos ciclos múltiplos, reza: “Cada ciclo é determinado pelo desenvolvimento de ciclos menores, que são a resultante do desenvolvimento de ciclos ainda menores, até o infinito negativo; por sua vez, é a determinante do desenvolvimento de ciclos maiores, que por sua vez o são de ciclos ainda maiores, até o infinito positivo”. 

Cada individualidade, como cada ciclo, é produzida e definida pela unidade que a precede; forma e define a unidade superior. A organização, o desenvolvimento, o equilíbrio maior é constituído pela organização, pelo desenvolvimento, pelo equilíbrio menor. Cada movimento constrói o seguinte, da mesma forma como foi construído pelo precedente. Cada ser equilibra-se num ponto da série, na hierarquia das esferas, que não tem limites. 

Isto do átomo à molécula, ao cristal, à célula, à planta, ao animal, a seu instinto, ao homem, à sua consciência individual e coletiva, à sua intuição, à raça, à humanidade, ao planeta, ao sistema solar, aos sistemas estelares, aos sistemas de universos, antes e além desses elementos de vosso concebível, antes e além das fases $ \gamma $ , $ \beta $, $ \alpha $. Eis a que processo de íntima auto elaboração deve a evolução. Nenhuma força age nem intervém do exterior, mas tudo existe no fenômeno e tudo caminha por síntese progressiva. Progresso e decadência cósmica se ressentem da evolução e do esgotamento atômico. Os extremos se tocam. A grande respiração do universo é dada pela respiração do átomo.