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04/05/2015



50. 

NAS FONTES DA VIDA

 






“...e o Espírito de Deus movia-se sobre as águas”.
(Gênese, cap. I)











Nova luz maravilhosa alvorece no horizonte do mundo fenomênico. No tépido regaço das águas, prepara-se o planeta para acolher o primeiro germe, princípio de novo modo de existir. O momento é solene. O universo assiste à gênese da suprema maravilha, amadurecida em seu seio, através de períodos incomensuráveis de lenta preparação, quase consciente do esforço titânico da Substância nascente, da qual brotará, no ponto culminante, a síntese máxima: 

a vida.

Nasce a flor mais complexa e mais bela, em que mais límpido transparece o conceito da Lei e o pensamento de Deus. Deus, sempre presente no âmago das coisas, aparece sempre mais evidente à proporção que se ascende, em sua progressiva manifestação, Deus aproxima-se de Sua criatura.

Ao detonar da primeira centelha nos confins extremos do mundo dinâmico, saturado de passado e totalmente amadurecido, o universo tremeu evocador e clarividente. A matéria existira, movimentara-se a energia, mas somente a vida saberia chorar ou alegrar-se, odiar ou amar, escolher e compreender; compreender o universo e a Lei e pronunciar o nome de seu Pai:

Deus. 

Nasce a vida; não a forma que vedes, mas o princípio que por si criará aquela forma para si
mesma, como veículo e meio de ascensão. Naquele princípio que animará a primeira massa protoplasmática, existe o germe de todas as sucessivas e ilimitadas realizações da nova forma da Substância; para cima, subindo sempre, até às emoções e às paixões, permanece o germe do bem e do mal, de todo o vosso mundo ético e intelectual. 

A fuga eletrônica de um raio de sol transformar-se-á em beleza e alegria, sensação e consciência. Nosso caminho, alcançando a vida, atinge regiões cada vez mais altas. Desta exposição irrompe um hino de louvor ao Criador. Minha voz funde-se no canto imenso de toda a criação. Diante do mistério que se realiza, no momento supremo da gênese, a ciência torna-se mística expansão, a exposição árida incendeia-se permeada pelo hálito do sublime; através da crua fenomenologia científica sopra o senso do divino. 

Diante das coisas supremas, dos fenômenos decisivos que somente aparecem nas grandes curvas da evolução, os princípios racionais da ciência e os princípios éticos das religiões fundem-se no mesmo lampejo de luz, numa única verdade. Por que a verdade descoberta por vós, racionalmente, deveria ser diferente da verdade que vos foi revelada? Diante da última síntese, caem os antagonismos inúteis do momento e de vosso espírito unilateral e cego. Cada verdade e concepção parcial tem que reentrar no Todo: 

a ciência tanto quanto a fé, o que nasce do coração e da mente, a matemática mais avançada e a mais alta aspiração mística, a matéria e o espírito, nenhuma realidade, por mais relativa que seja, pode ser excluída. 

Se a ciência é realidade substancial, como pode permanecer fora da síntese? Se o aspecto ético da vida é também realidade substancial, como pode ser descuidado? Essas novas concepções podem chocar vosso misoneísmo; tão grande salto à frente talvez vos cause medo; esse conceito de Divindade pode encher-vos de desânimo, mais que de amor. Mas também tendes que admitir e, com isso, torna-se pequeno apenas o conceito do homem, em relação ao conceito de Deus, que se agiganta além da medida.

Isso poderá desagradar aos egoístas e aos soberbos, jamais às almas puras. No momento solene volita nos espaços um hálito divino. O pensamento, permeado pelo grande mistério, olha e recolhe-se em oração.

Orai assim:



“Adoro-te, recôndito Eu do universo, alma do Todo, Meu Pai e Pai de todas as coisas, minha respiração e respiração de todas as coisas.

Adoro-te, indestrutível essência, sempre presente no espaço, no tempo e além, no infinito. Pai, amo-te, mesmo quando Tua respiração é dor, porque Tua dor é amor; mesmo quando Tua Lei é esforço, porque o esforço que tua Lei impõe é o caminho das ascensões humanas.

Pai, mergulho em tua potência, nela repouso e me abandono, peço à fonte o alimento que me sustente.

Procuro-te no âmago onde Tu estás, de onde me atrais. Sinto-Te no infinito que não atinjo e donde me chamas. Não Te vejo e, no entanto, ofuscas-me com Tua luz; não Te ouço, mas sinto o tom de Tua Voz; não sei onde estais, mas encontro-Te a cada passo, esqueço-Te e Te ignoro, no entanto, ouço-Te em toda a minha palpitação. 

Não sei individuar-Te, mas gravito em torno de Ti, como gravitam todas as coisas, em busca de Ti, centro do universo. Potência invisível que diriges os mundos e as vidas, Tu estás em Tua essência acima de toda a minha concepção.

Que serás Tu, que não sei descrever nem definir, se apenas o reflexo de Tuas obras me enceguece? Que serás Tu, se já me assombra a incomensurável complexidade desta Tua emanação, pequena centelha espiritual que me anima integralmente? O homem Te busca na Ciência, invoca-Te na dor, Te bendiz na alegria. 

Mas na grandiosidade de Tua potência, como na bondade de Teu amor, estás sempre além, além de todo o pensamento humano, acima das formas e do devenir, um lampejo do infinito.

No ribombar da tempestade está Deus; na carícia do humilde está Deus; na evolução do turbilhão atômico, na arrancada das formas dinâmicas, na vitória da vida e do espírito, está Deus. 

Na alegria e na dor, na vida e na morte, no bem e no mal, está Deus; um Deus sem limites, que tudo abarca, estreita e domina, até mesmo as aparências dos contrários, que guia para seus fins supremos.

E o ser sobe, de forma em forma, ansioso por conhecer-Te, buscando uma realização cada vez mais completa de Teu pensamento, tradução em ato de Tua essência.

Adoro-Te, supremo princípio do Todo, em Teu revestimento de matéria, em Tua manifestação de energia; no inexaurível renovar-se de formas sempre novas e sempre belas; eu Te adoro, conceito sempre novo, bom e belo, inesgotável Lei animadora do universo. Adoro-Te grande Todo, ilimitado além de todos os limites de meu ser.

Nesta adoração, aniquilo-me e me alimento, humilho-me e me incendeio; fundo-me na Grande Unidade, coordeno-me na grande Lei, a fim de que minha ação seja sempre harmonia, ascensão, oração, amor.

Orai assim, no silêncio das coisas, olhando sobretudo para o âmago que está dentro de vós. 

Orai com espírito puro, com intenso arrebatamento, com poderosa fé, e a radiação anímica, harmoniosamente sintonizada com grande vibração, invadirá os espaços. 

E ouvireis uma voz de conforto, que vos chegará do infinito.






49. 

DA MATÉRIA À VIDA


 
Da mesma forma que a natureza cinética dá à energia sua característica fundamental, a de transmitir-se (dimensão espaço que ascende à dimensão tempo), o novo princípio da coordenação das forças, num mais débil e caduco, porém mais sutil, complexo e profundo entrelaçamento cinético, dá à energia, elevada à vida, sua característica fundamental de consciência (dimensão tempo que ascende à dimensão consciência). 










Individuam-se as formas de vida, tal como toda forma de energia individuara-se num tipo bem definido, com fisionomia própria e com tendência a conservar-se em seu modo de ser, como indivíduo que deseja afirmar-se e distinguir-se de todos os afins, com movimento, forma, direção e, portanto, com objetivo próprio: 

um Eu que já possui os elementos fundamentais da personalidade e, não obstante seu contínuo devenir, conserva inalterado seu tipo. 

Nas formas de vida, o princípio de individuação — depois que a Substância atingiu o mais alto grau de evolução e de diferenciação — torna-se cada vez mais evidente. Já na energia, as formas conquistam uma existência própria independente de sua fonte originária. 

A luz, uma vez lançada, destaca-se e existe progredindo de per si no espaço. Chega do infinito, luz estelar emanada milhares de anos antes, sem que saibais se a estrela que a originou sequer ainda existe. E o som continua, avança e chega, quando a causa das vibrações já está em repouso. Se as formas de energia, uma vez geradas, sabem existir no espaço pelo seu próprio princípio, na vida, a autonomia é completa. 

Como são parentes pela comunidade de origem e pela afinidade de caracteres, as formas químicas e depois as formas dinâmicas, de igual modo, são parentes entre si as formas de vida, pela gênese e pelos caracteres, todas fundidas com todos os seres existentes, orgânicos e inorgânicos, numa fraternidade universal. Irmandade substancial, constituída de igual matéria, idêntico modo de ser, do mesmo objetivo a atingir; fraternidade a que se deve a possibilidade da convivência, simbiose universal, e de todas as trocas da vida, que são sua condição.
 
Voltemos um olhar ao caminho percorrido. $ \beta $ concentrou seu íntimo movimento no núcleo, unidade constitutiva do éter. Neste ponto, o movimento de descida involutiva ou de concentração cinética, ou de condensação da Substância, inverte-se em direção oposta, de subida evolutiva ou de descentralização cinética. 

O núcleo, síntese máxima de potencial dinâmico no ponto $ \beta \rightarrow \gamma $ do transformismo fenomênico, reconduz, por sucessiva emissão de elétrons, a energia cinética concentrada. Percorramos a fase $ \gamma $, assistindo ao desenvolvimento da série estequiogenética. Se na química temos, como primeiro estágio, o hidrogênio, na astronomia temos a nebulosa, isto é, matéria jovem e universo jovem — estado gasoso — estrelas quentes, fase ainda de alta concentração dinâmica. 

Enquanto de um lado desenvolve-se a árvore genealógica das espécies químicas, do outro evolui a vida das estrelas que envelhecem, resfriam-se, solidificam-se, assumindo constituição química, luz e espectro diferentes, afastando-se do centro genético do sistema galáctico. Há uma maturação paralela, integral, da substância e da forma. 

Noventa e dois elétrons são sucessivamente lançados fora da órbita espiralóide nuclear, cada um deles continua a girar em sua órbita ligeiramente espiralóide. sucessivamente constroem-se os edifícios atômicos, cada vez mais complexos, dos corpos químicos indecompostos, segundo uma escala de pesos atômicos crescentes. Aqui torna-se possível uma aproximação entre o vórtice galáctico e o vórtice atômico. 

A gênese e o desenvolvimento do primeiro podem dar-vos um exemplo tangível da gênese e do desenvolvimento do segundo. Enquanto a energia concentra-se no núcleo (éter) — centro genético das formas de $ \gamma $ — paralelamente o universo, na fase dinâmica, concentra-se na nebulosa mãe da expansão espiralóide galáctica. Inversamente, as estrelas, durante o processo de sua evolução, projetam-se do centro à periferia, com velocidades progressivas à proporção que envelhecem e se afastam desse centro. 

Isso ocorre com uma técnica que coincide com a do desenvolvimento espiralóide do átomo. Uma vez mais os fenômenos confirmam a atuação da trajetória típica dos movimentos fenomênicos em seus dois movimentos, involutivo e evolutivo. Assim, do éter — último termo da descida de $ \beta $ — nasceu a matéria que, depois, por evolução atômica, atinge as espécies radioativas. Primeiro os corpos de peso atômico menos elevado, depois os de peso atômico mais alto. 

Primeiro o magnésio, o silício, o cálcio; mais tarde aparecem os elementos mais sólidos, como prata, platina, ouro, menos jovens. Vós os encontrais no velho sistema solar e sua parte mais solidificada e resfriada dele, os planetas. Os corpos simples, no estado gasoso, como Hidrogênio, Oxigênio, Nitrogênio, são mais raros em vosso globo. Aqui aparece a radioatividade, como fenômeno tão difuso, como uma função inerente à matéria, em vista do estágio em que se encontra em vosso planeta. 

Para o centro deste, onde a matéria manteve-se mais quente e está menos envelhecida, são mais raros os corpos radioativos, tanto que, apenas a 100 Km de profundidade a radioatividade quase desaparece. Depois de completada a maturação das formas de $ \gamma $ , ocorreu também uma expansão do vórtice galáctico, do centro à periferia, com o resfriamento e a solidificação da matéria. 

Esta terminou o ciclo da vida e a Substância assume novas formas; transforma-se lentamente em individuações de grau mais alto. A dimensão espaço ascende à dimensão tempo. A matéria inicia uma transformação radical, doando todo o seu movimento tipo g ao movimento tipo $ \beta $. O vórtice nuclear do éter desenvolveu, na fase g o vórtice atômico da matéria. 

Chegando ao máximo da dilatação, esse vórtice continua a expandir-se, desenvolvendo as formas dinâmicas, e nasce a energia. A Substância continua a evoluir, prosseguindo sua ascensão em $ \beta $. A primeira emanação gravífica de comprimento mínimo de onda, frequência vibratória e velocidade de propagação máxima no sistema dinâmico, completa-se com a emanação radioativa da desintegração atômica. 

O processo de transformação dinâmica, que tem suas raízes na evolução estequiogenética, isola-se, afirmando-se decididamente. O vórtice atômico rompe-se e decompõe-se, por progressiva expulsão do sistema daqueles elétrons, que já nasceram para serem expulsos do sistema nuclear. Trata-se de um constante realizar-se daquilo que estava em potência, fechando-se em germe por concentração de movimento. 

Nascem novas espécies dinâmicas:  

depois da gravitação e da radioatividade, aparecem as radiações químicas, a luz, o calor, a eletricidade, sempre em ordem de frequência vibratória decrescente e comprimento de onda progressivo. 

A matéria, que viveu e não tem mais vida própria, responde ao impulso desse novo turbilhão dinâmico que ela mesma gerou, é toda invadida por ele e movimentada. 

Este é vosso atual universo: a matéria que está morrendo, a energia em plena maturidade, a vida e a consciência jovens, em vias de formação. Os cadáveres da matéria, já solidificada e sem vida própria, de formação química, lançados e sustentados nos espaços pela gravitação, inundados de radiações de toda espécie, são apenas o sustentáculo de formas de existência mais altas. 

Da eletricidade (a forma dinâmica mais madura), numa nova grande curva da evolução, nasce e veremos como, a vida: matéria organizada como vida, ou seja, retomada num turbilhão ainda mais alto. 

A vida, pequena centelha na origem, na qual continua a expansão evolucionista do princípio nuclear e atômico, dinâmico (onda), numa forma cada vez mais complexa de coordenação de partes, de especialização de funções, de organização de unidades e de atividades; a vida, cuja substância, cujo significado, objetivo e produto é a criação da consciência, é $ \alpha $, o espírito. 

E da primeira célula se iniciará, através de miríades de formas, de tentativas, de fracassos e de vitórias, a lenta conquista que gradualmente triunfará no homem e dele, hoje, lança-se para as últimas fases do terceiro período de vossa evolução, que se resume na conquista da superconsciência e na realização biológica do Reino de Deus.

$ \alpha $            $ \beta $            $ \gamma $