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10/06/2015


62. 

AS ORIGENS DO PSIQUISMO

 

 




Vimos o aspecto conceptual da fase $ \alpha $, a evolução do princípio diretor da vida. Observemos, agora, o aspecto prevalentemente dinâmico do devenir, em que se manifesta esse princípio. 








Vimos transformar-se o princípio básico da luta. Vejamos, então como se exprime essa transformação nas formas de um psiquismo crescente. As três forças que sustentam as leis de conservação e evolução e se manifestam nos impulsos — fome, amor e insaciabilidade do desejo — transformam profundamente a natureza do ser, paralelamente à transformação dos princípios, porque é sua exata expressão.

Se a finalidade da vida é a evolução, logo o objetivo da evolução, com sua tendência constante à realização máxima na fase vida é o psiquismo. Observemos como ele surge e se desenvolve até às formas superiores humanas. Um germe do psiquismo já existe, como vimos, na complexa estrutura cinética dos movimentos vorticosos. 

Desde esses primeiros sintomas, até o espírito do homem, passa-se por gradações sucessivas de desenvolvimento, através das formas vegetais e animais, cujos órgãos e formas são meras manifestações de um psiquismo progressivo. Esse psiquismo crescente, que rege todas as formas de vida, é um dos espetáculos mais maravilhosos apresentados por vosso universo.
 
Nele reside a substância da vida e a essa substância mantemo-nos aderentes. Para nós, vida = $ \alpha $, ao passo que suas formas constituem apenas veste exterior de um íntimo psiquismo. Evolução biológica é, para nós, evolução psíquica. Para compreender a evolução dos efeitos, é mister compreender a evolução das causas. 

Para nós, zoologia e botânica são ciências de vida, não um catálogo de cadáveres, e consideramos as formas apenas enquanto são a expressão do conceito que as plasmou. Não as ligamos por parentela orgânica senão onde e enquanto esta é indicadora de uma parentela psíquica mais substancial. 

Botânica e zoologia vós as reduzistes a necrópoles, ao passo que são reinos palpitantes de vida, de sensibilidade, de atividade, de beleza.
 
Assim consideramos, desde o princípio, o problema da vida e o desenvolveremos até o fim, porque só desse modo podem ser resolvidos racionalmente todos os problemas biológicos, psíquicos, e éticos. É absurdo conceber que as formas da vida sejam objetivos em si mesmas e sua evolução não possua finalidade nem continuação, justamente onde um eterno transformismo as precede nas fases $ \gamma $ e $ \beta $

A continuação da evolução orgânica só pode ocorrer a partir da evolução psíquica, como de fato se realiza no homem. Este psiquismo é a meta mais alta da vida. Seu desenvolvimento é o resultado final da permuta, da seleção, da transformação da espécie, de tão grande sabedoria, de tamanha luta, de tão alta tensão. 

Esse psiquismo fixa-se nos órgãos, nas formas; plasma-as, anima-as em todos os níveis, delas faz um meio para evoluir ainda mais. Nas formas da vida, o psiquismo se revela e se exprime, a partir das formas, observando-as podeis subir até o princípio psíquico, à centelha que se agita em seu âmago. 

Tudo isso constitui um esforço, uma ascensão dolorosa, do protozoário ao homem, sempre subindo, até os mais altos cimos do psiquismo, onde se realiza a gênese do espírito, obra maravilhosa e progressiva, em que a Divindade, princípio infinito, está sempre presente num ato constante de criação.
 
No estudo dos movimentos vorticosos, vimos como eles contêm, em germe, o desenvolvimento das leis biológicas e como a estrutura íntima cinética da vida lhes permite, desde suas unidades primordiais, admitir em sua órbita impulsos de fora e conservar seus traços em suas subsequentes alterações cinéticas íntimas. 

Um cálculo exato de forças existe, pois, como base dessa capacidade de conservação dinâmica, que se tornará recordação atávica, base sobre a qual se elevará a lei da hereditariedade. 

O ambiente externo, em que continuava a existir a matéria e a energia, ainda não elevadas à vida, representava um campo de intensa atividade cinética e se a onda dinâmica degradada tinha — ao investir a íntima estrutura atômica — gerado a vida, o ambiente externo, saturado de impulsos, continha e representava uma riqueza inexaurível de impulsos aptos a introduzir-se e a combinar-se no vórtice vital.
 
Logo que surgiu, estabeleceu-se uma rede de ações e reações entre a nova individuação e as forças do ambiente, desenvolveu-se aquela cadeia de fenômenos, em que se apóia e progride a evolução, e são agrupados sob os nomes de assimilação, adaptação, hereditariedade, seleção. 

A vida, com seu mais intenso dinamismo, respondeu a todas as impressões dinâmicas provenientes do mundo exterior. Estabeleceu-se uma permuta de impulsos e respostas. 

A vida adaptava-se e assimilava, acima de tudo recordava, diferenciava-se, selecionava-se. O íntimo princípio cinético enriquecia-se e complicava-se, aumentava sua capacidade de assimilação. 

Não se trata do nascimento automático do mais complexo provindo do menos complexo; apenas os entrelaçamentos cinéticos mais complexos permitiam a manifestação do princípio cinético, fechado em sua fase potencial. Direção, escolha, memória foram as primeiras manifestações daquele dinamismo que já agora assume os caracteres de psiquismo. 

Nasce a possibilidade de uma construção ideoplástica de órgãos. O princípio cinético, que emanou do vórtice íntimo, plasma para si os meios específicos para receber as impressões ambientais, isto é, os sentidos, infinitos, que progridem da planta ao homem, meio para alimentar a sensibilidade acrescida, devida à mais veloz mobilidade íntima do ser.