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24/10/2015




DEUS 
E
UNIVERSO

 
Autor: 
Pietro Ubaldi 



PREFÁCIO

Numa grande reviravolta da minha vida e da vida do mundo, nasceu este livro, subitamente, como uma explosão. 

Foi escrito em vinte noites, pouco antes da Páscoa de 1951, aproveitando-me de uma bronquite que me forçava ao repouso, furtando-me ao trabalho diurno normal, necessário para a manutenção de minha família. 

Escrevi-o sob intensa febre, que facilitava a elevação do potencial nervoso, na solidão gelada de Gubbio. Como aqui está registrada, a visão me apareceu, em vinte etapas ou capítulos, nos imensos silêncios daquelas longas noites hibernais.
 
Qual explosão de pensamento e de paixão, este livro não poderia revelar-se a não ser à aproximação da Semana da Páscoa, após um longo e íntimo tormento preparatório. 

Sob a exposição fria e racional, que pretendeu, sobretudo, ser fiel às visões, oculta-se e arde essa paixão, a ânsia do inexplorado, o terror de debruçar-se sozinho sobre os abismos dos maiores mistérios, a imensa festa da alma pelo conhecimento obtido. 

No esforço aqui despendido para galgar os últimos cimos, como coroamento da obra, há como que uma vertiginosa desesperação da alma, que se sente perdida e desfeita diante do lampejo de uma concepção que não é sua, que dardeja sobre ela, ofuscando-a e arrebatando-a para os vértices do pensamento, onde tudo se faz uno, e para os vértices das sensações, onde alegria e dor se unificam num imenso espasmo de êxtase.
 
Este livro, que não é meu, apareceu assim como um relâmpago, para trazer a solução dos problemas últimos, em meio a uma humanidade descontrolada, delirante com os sofismas e os requintes da decadência, neste momento em que a História está procedendo à liquidação da velha civilização europeia. 

A hora é apocalíptica, porque é a hora da justiça quando todas as almas e os valores da humanidade devem ser joeirados, de uma forma implacável, a fim de que tudo o que não seja vital se incinere. 

Estamos asfixiados por montanhas de falsidades e a vida se rebela por que está faminta de verdade. 

E a verdade deve ser dita a qualquer custo, pois que o mundo em breve será sacudido pelos alicerces Ela deve ser dita antecipadamente, de uma forma clara, simples e una. Urge lançar a semente da ideia que deverá reger o novo mundo do terceiro milênio, aquele que ressurgirá da destruição do atual.
 
Este é o décimo volume desta Obra, que agora, depois de haver superado infinitos obstáculos, transborda pelo mundo e, de puro sistema de conceitos, está se transformando em vida. 

O milagre, predito com exatidão, ainda que proibido, torna-se realidade: 

o milagre consiste em que um homem sozinho, pobre, cruciado de dores, voltado à renúncia e esmagado sob o peso de um árduo trabalho, consiga sobrepujar tudo isso e lançar uma ideia ao mundo. 

É que, em geral, onde existe o que, humanamente, por inexplicável, se chama milagre, está Deus e, onde Deus está é possível se chegar até aos fundamentos. 

Há quarenta anos luto com esta certeza e os fatos de cada dia mais a confirmam. Em breve surgirão os volumes undécimo e duodécimo; - aqui já estão lançadas as suas bases. 

Desta maneira, uma obra completar-se-á pelo trabalho penoso e íntimo de um homem, a fim de que o mundo possa afinal, enxergar claro todos os problemas e, assim ser levado, unicamente pela via da razão e do utilitarismo, a uma vida mais honesta e justa e a fim de que a fé seja demonstrada, fazendo-se a paz entre ideias e homens.
 
Quis, por isso, interrogar, por meio de recente contato direto, os povos mais jovens das Américas; encontrei-os preparados para compreender melhor as nossas ideias do futuro do que a velha Europa. 

E, graças a isso, agora tampouco devemos preocupar-nos se a difusão destas ideias se faz aqui com mais lentidão e se as edições em italiano se vão tornando cada vez mais lentas, em face das dificuldades sempre crescentes do ambiente. 

Essas dificuldades locais não mais conseguirão conter a divulgação da Obra que se desenvolve no mundo. O importante é que tudo seja logo escrito e publicado, não importa onde. Outras gerações, depois, após outras provas, virão e compreenderão.
 
Na sua última missiva, na primavera de 1951, Albert Einstein assim me escrevia de Princeton. N. J., a propósito do oitavo volume da Obra Problemas do Futuro – que
mais dizia respeito a sua especialidade: 

I have studied part of your book and have admired the force of the language and the vast extension of your interest...” 

(“Estudei parte do seu livro e admirei a força de expressão e a vasta extensão de seus objetivos....”). 

Mas o presente volume está construído em outro terreno, a que podemos chamar teológico, além da ciência atual. Por isso é mais vasto do que o primeiro livro – A Grande Síntese – que ele encerra, como um seu momento, desenvolvendo-se em um campo que a visão de A Grande Síntese encarando apenas o nosso universo atual, não podia atingir. 

Com o presente volume pode se dizer estar exaurido o ciclo dos grandes conceitos básicos, atingindo-se a solução dos máximos problemas. 

Possivelmente depois deste esforço de racionalismo cerrado, o undécimo volume, por compensação, deverá assumir característica oposta, ou seja, de vitória da vida no espírito.
 
"Através da vida tenha caminhado, caindo e levantando. Através dos meus escritos tenho caminhado por uma longa senda de fadiga e de fé. Quantas etapas superei! 

O meu pensamento desenvolveu-se através de inúmeras conceitos e a minha paixão amadureceu de tanto sofrer. Ao fim de tanta ansiedade de alma e de coração, não restará mais que uma palavra, a última de tantas que foram ditas: 

Cristo. 

Sobre esta palavra, que é a síntese suprema da conhecimento e do amor, eu me reclinarei satisfeito e feliz, para morrer. Satisfeita como quem, superando todas as ilusões. humanas, reencontrou a verdade absoluta. Feliz como quem, vencendo todas as dores humanas, reencontrou a sua suprema alegria". (Do quarto volume: Ascese Mística - 1939).
 
Aventurar-se em um terreno teológico poderá parecer excessiva audácia. Mas, eu não pude escolher o tema das visões, que apenas registrei. Ademais, era necessário resolver tudo, também os problemas últimos, a fim de que o sistema se completasse. Afinal, por que o teológico deve ser um terreno proibido? 

Por que a indagação deve se furtar aos cimos máximos e se impor eternamente o mistério? 

Por que relegar ao museu das coisas mortas certos problemos, apenas porque hoje se acredita na ciência que sabe fazer descobertas úteis e não é capaz de formular tais questões? Deveremos, então, cancelá-las de nossa mente? 

A pesquisa da verdade, feita com sinceridade, com fé e com respeito, não tem sentido de culpa. Possuímos inteligência para usá-la e esforçamo-nos honestamente para compreender, até ande for possível, tem mais valor do que a dormência passiva da crença. 

Além do mais, se o mundo e as religiões progrediram, isto se deve à paixão de conhecimento que almas sedentas e isoladas cultivaram com o próprio risco e grande tormento.
 
A este propósito, permitimo-nos citar algumas páginas de Giovanni Papini:
 
Cartas do Papa Celestino VI aos homens, páginas que ninguém taxou de heterodoxia.
 
"Por que é a divina teologia hoje tão pouco popular entre os homens? Por que a ciência suprema, a ciência de Deus é hoje ignorada, mesmo pelos não ignorantes? Por que a vemos relegada, sobretudo em nossa Igreja, às classes dos seminários e aos estudantes dos mosteiros?”
 
Que aconteceu? 

Não aflige a vossa alma a dúvida que de tão funesto desinteresse a máxima culpa vos cabe?
 
"Interrogai a vossa consciência e respondei com franqueza cristã. A responsabilidade desse abandono não é inteiramente vossa, mas é, antes de mais nada, vossa. As grandes coisas jamais são vencidas pelas adversárias, mas pela fraqueza e infidelidade dos seus divulgadores. 

Que uso fizestes, de muitos séculos para cá do patrimônio sobrenatural que vos foi confiada? 

Por que permitistes que outros (... ) tenham tomado o seu lugar na atenção dos pensadores?
 
“A verdade, dolorosa verdade, é que a vida ardente e criadora do pensamento se afastou de vós. Depois de S. Tomás (...) não fostes capazes de construir uma nova e poderosa síntese teológica (...)”.
 
"De há muito tempo não aparece entre vós um gênio que saiba, como os grandes escolásticos, conduzir à meta única por novos caminhos. Não soubestes acrescentar uma nova prova da existência de Deus, depois das apresentadas por S. Anselmo e S. Tomás.
 
Não soubestes oferecer uma ideia mais profunda da redenção depois de Duns Scott e não soubestes verter o vinho eterno da verdade em odres ardentes, em cálices de cristal mais puro.
 
"A Escolástica decaiu pelos excessos de sutilezas verbais e pelo pedantismo sofistico dos occamistas [1]. Vós a depositastes decomposta no féretro lúgubre da repetição.
 
Há séculos vós, teólogos, não sois mais que compiladores de sinopses, manipuladores de manuais, registradores de lugares-comuns; não sois mais do que entediantes comentadores, glosadores, exumadores, postiladores, ruminadores de antigos textos venerados (. . .). 

Não vos haveis de que os alimentos requentados em demasia despertam aversão aos mais gulosos, e de que as comidas e remexidas nas velhas panelas de barro e com os mesmos condimentos, acabam saturando os mais pacientes paladares? 

Cada século possui a sua linguagem, os seus apetites, os seus sonhos, os seus problemas. Vós parastes o relógio da História no século XlV e continuais a servir uma sempiterna sopa aos dóceis candidatos ao sacerdócio, sem dar atenção aos cristãos que estão fora das portas claustrais e que já agora estão habituados a acepipes mais apetitosos e saborosos (. . .). 

Essa inapetência obstinada, que já dura alguns séculos, será devida somente ao gosto pervertido e gasto de dos leitores modernos ou, também, se não mais, à vossa fastidiosa mediocridade de capciosos repetidores? Se entre vós existisse uma estrela de primeira grandeza, bem elevada sobre o horizonte, todos a veriam e a procurariam. Mas não passais de círios mortiços que a grande custo iluminam as trevas dos oratórios. 

Os antigos e majestosos "in fólios" dos teólogos dormem um poeirento sono entre almofadas de pergaminho e pele, nas estantes carcomidas das bibliotecas, onde de raro em raro os leigos vão despertá-los. As obras dos teólogos modernos são prontuários para uso interno dos clérigos, ou áridos tratados (. . .).
 
"Mas pode a ciência de Deus, se quer reconquistar o afeto dos desatentos e dos desviados, permanecer sempre sobre as fundamentos e nas portinholas do século XIII?
 
Não poderá também a teologia, como todas as ciências, apresentar avanços e progressos?
 
O próprio S. Tomás de Aquino não pareceu revolucionário em seu tempo, a ponto de suscitar oposições e provocar condenações?(....).
 
"Existem, ainda, nas Escrituras, revelações maravilhosas que se poderiam mais amorosamente desvelar (. . .). Não é verdade que tudo tenha sido dito e que tenhamos de ser porta-vozes dos mortas. 

Cada século avança no caminho do espírito e possivelmente se verá, no futuro, uma teologia de fulgor tão brilhante (. . .) que, a por nós herdada, não obstante a sua admirável arquitetura, parecerá, aos venturosos cristãos da futuro, pouco mais que um esboço, isto é, julgá-la-ão como os titãs da escolástica julgaram as primeiros sistemas doutrinários dos Pais da Igreja. 

gênero humano e o povo cristão foram educadas por graduações e por isso quem ousará estabelecer confins de tempo aos designos divinos e aos esforços humanos? 

Espero com fé uma outra idade de ouro da nossa ciência:  

novas iluminações de santos, novas intuições de poetas, novas interpretações de doutores farão a teologia, como em tempos de antanho a dominadora dos espíritos superiores (. . . ).
 
"Mas, é necessário que vos afasteis, teólogos, das batidas estradas da repetição, da mecanicidade silogística, do pedantismo verbalistíco e formalístíco que tresanda demasiado a ranço, e mofo às narinas modernas ( . . .).
 
"Saí algumas vezes ao ar livre (. . . .), não desdenheis de aprender alguma coisa com os não-teólogos (. . . .). Hoje que estais bocejando no mar morto da indiferença e da monotonia, exorto-vos a ousar (. . ..). Nas palavras da revelação podem-se encontrar novos sentidos, possivelmente mais profundos do que os que já se encontraram; aos dogmas, a esses dogmas pode-se chegar por novas vias, anda mais firmes do que as das velhas estradas.
(. . .) dos homens de estudo e de engenho dependem sempre, em última instância, as opiniões e os pendores das multidões. Se conseguirdes reconquistar as aristocracias do espírita, vereis, logo depois, que os povos as seguirão" (. . . .).

"Bastaria uma inspiração audaz e feliz para fazer convergir de todas os lados os sequiosos. 

Muitos têm sede hoje (. . .)”.

                                                                    * * *
[1] -  Seguidores de Guilherme de Occam filósofo inglês e franciscano de Oxford, para quem o saber verdadeiro é o sensível (empirismo). O occanismo teve êxito nos séculos XIV e XV declinando, em seguida e descambando para um formalismo lógico. Com ele termina a escolástica medieval. 
(N. do T.)

                                                                    * * *
Assim falou Papini. Transcrevemos-lhe as palavras apenas porque, ditas por ele, catolicíssima, encontram, receptividade na Itália, enquanto ditas por nós, seriam condenadas como heresia.
 

Embora este livro, por necessidades editoriais, deva vir a público primeiro em português, no Brasil, da que em italiano, na Itália foi ele, todavia, escrito na Itália, levando em consideração as diretrizes do pensamento europeu, que não são idênticas às brasileiras Levou-se, assim, em linha de conta, sobretudo a pensamento católico. 

Foram-lhe, todavia, acrescentadas algumas páginas no Brasil, para que com imparcialidade e universalidade, se colocasse também diante da pensamento espiritualista e espírita.
 

Com respeito a este último, podemos afirmar, aos que temam que este livro fuja ao seu ponto de vista estritamente ortodoxo, que ele pode constituir uma das maiores provas da reencarnação. Realmente o sistema aqui exposto admite e prova que houve uma criação única de Espíritos. 

Estes, justamente por motivo da queda (primeiro, através da fase de descida – involução – e depois, no decurso da fase de subida – evolução), devem, sempre os mesmos filhos da criação única, infindas vezes reencarnar-se na matéria, que é filha da queda, para espiritualizá-la novamente, através das provas e da dor, para que tudo retorne e reintegre em Deus.
 

Uma grande vida eterna, qual foi na origem, fragmentada na queda em inúmeras vidas e mortes sucessivas na matéria, é elemento necessário e fundamental do sistema, é a imprescindível condição do processo evolutivo.
 

O sistema é todo sustentado pela ideia reencarnacionista, que tão firme se abriga no coração dos espiritistas. Esta teoria encontra aqui, mesmo quando explicitamente nela não se fala, uma confirmação, uma prova, uma demonstração. Sem ela, cairia o sistema exposto neste volume, como cairia A Grande Síntese e também toda a obra.
 

E se o leitor encontrar aqui conceitos que não são os habitualmente repetidos, recordará que sobre o problema teológico propriamente dito a Doutrina Espírita ainda não pronunciou em definitivo, pois é uma doutrina em desenvolvimento, aberta sempre a novos aperfeiçoamentos que a amadurecem e a fazem evoluir sempre mais.

Na noite de 9 de maio de 1932 eu registrava, por via da inspiração, uma mensagem particular para Mussolini que lhe foi entregue na tarde de 5 de outubro do mesmo ano. Ele a leu e agradeceu, através de autoridades governamentais. 

Tudo está documentado, mesmo na imprensa. Eis algumas frases da mensagem: "(. . .) trata-se de ajudar o nascimento do humanidade nova, que surgirá do convulsão do mundo (. . . ).

Evita, com todas as tuas forças, qualquer guerra. Não há razão humana que passa justificar hoje uma guerra que, com os hodiernos meios de destruição, significaria uma tal catástrofe que poderia assinalar a fim da civilização europeia, através da invasão asiática e impeliria, enfim, a civilização a emigrar, depois de tremendas cataclismos, para as Américas (. . .)

Outras mensagens, depois transmitidas, diziam, entre outras coisas, o que se segue:

(. . . ) o momento histórico está maduro para grandes acontecimentos (. . .), o momento histórico chegou, porque hoje fala a dor. 

O momento histórico é grave, porque a dor falará ainda tremendamente, como jamais falou 
(. . .). 

A civilização europeia, que é civilização cristã, ameaça ruir-se (. . .). 

A presente tranquilidade, operante, é a calma que precede as grandes tempestades (. . .). 

O mundo hoje joga tudo e por tudo".

Estava-se assim em 1932, bem distante das condições mundiais que somente hoje começamos a ver claramente e que nessa ocasião foram previstas com exatidão.

Para quem tem olhos para enxergar, o plano de Deus é evidente. É vontade Sua que no ano dois mil deva surgir uma nova civilização do espírito, em que o Seu Evangelho seja vivido seriamente, a fim de que Crista não se tenha sacrificado em vão. 

E esta hora chegou, já anunciada há vinte anos pelo que foi mencionada e por outras mensagens já publicadas [2].

Pode-se atingir esta meta por duas vias: corrigir-se espontaneamente, pela mudança de psicologia, inteiramente integrada no amor evangélico, ou então continuar a trajetória iniciada, com uma guerra que poderá destruir o hemisfério norte e a sua civilização. Em qualquer caso, o plano de Deus se realiza. No primeiro, por compreensão rápida de seres inteligentes; no segundo por compreensão lenta dos seres involuídos, através da dor que sabe fazer compreender por todos.

A humanidade padece a doença do materialismo e agora caminha para a mesa cirúrgica. No ano dois mil, Deus terá completado a operação. A bomba atômica será instrumento de liquidação da civilização materialista que a produziu. 

A destruição bélica, se essa for a via que o mundo escolher, será a obra de Satanás, que terá a incumbência, assim como a traição de Judas preparou a redenção, de preparar a nova civilização do espírito. E a hora chegou, e a fim de que a humanidade, com o terceiro Milênio, entre no seu terceiro dia, aquele em que Cristo ressuscitou. 

Cristo que afirmou que reconstruiria o Templo em três dias. Assim a velha civilização materialista deve ceder lugar uma nova civilização do tipo oposto.

Desta forma, se a humanidade não for suficientemente inteligente para compreender, será a própria guerra que destruindo um pouco de tudo, lhe ensinará que ela não constitui o meio adequado para resolver os problemas. Esta será a maior descoberta do século. 

O tipo biológico condutor de exércitos, o ideal nietzscheano do homem da força, cada vez mais desacreditado hoje, já surge como um tipo falido e uma nova guerra o sepultará definitivamente no reino passado do involuído feroz. 

O novo homem de comando, assim como a classe dirigente, deverá ser cada vez menos guerreiro e cada vez mais inteligente, até à plena espiritualidade.

Neste momento histórico, nasce o presente volume, terminado na Páscoa de 1951. Logo após os dois volumes: 

Problemas do Futuro e Ascensões Humanas, completados na Páscoa de 1950. 

Estamos nos dois primeiros anos da segunda metade do nosso século, no qual se decidirá a sorte do mundo para o futuro milênio. É neste momento que A Grande Síntese é ampliada e aperfeiçoada até o terreno teológico.

                                                                        * * *

[2] - Referencia às primeiras das Grandes Mensagens (Messaggi Spirituali), volume inicial da obra completa. (N.do T.)

                                                                        * * *
E, após ter atingido nos dois volumes acima mencionados a solução de problemas parciais mais próximos a nós, aqui é oferecida a solução dos problemas máximos, de modo que se lance luz sobre tudo, já que o mundo deverá prestes seguir nova orientação e necessita, assim, de um modo absoluto de novas e completas concepções, por meio das quais possa avançar. 

Para isto é indispensável um sistema de conhecimentos que resolva e esgote todos os problemas até os fundamentos. Para que se possa ter uma orientação até à realidade da vida, é, pois necessário também resolver os problemas últimos, reservados à Teologia, hoje negligenciados como inúteis pelos espíritos adormecidos no materialismo.

Na introdução do livro Problemas do Futuro, explicamos que a terceira trilogia, da qual este volume, o décimo, constitui o segundo termo, é a trilogia da sublimação, quanto a primeira trilogia foi a da explosão e a segunda, a da assimilação. Assim após o primeiro momento de simples espontaneidade inspirativa, superado o segundo, de introversão reflexa. 

Assistimos aqui agora, ao desenvolvimento do terceiro momento em que, por meio de uma maturação cada vez maior, os motivos da primeira trilogia são retomados, desenvolvidos e potencializados em uma compreensão crescentemente profunda, elaboração pela qual eles se completam e consolidam definitivamente. 

É assim que o volume. Problemas do Futuro retoma e aperfeiçoa a parte inicial, filosófica-científica de A Grande Síntese, enquanto o volume seguinte. Ascensões Humanas retoma e aperfeiçoa o problema social, biológico e místico, desenvolvendo teses apenas acenadas em A Grande Síntese. 

Mas, a fim de que o plano do conhecimento desenvolvido em toda a Obra pudesse ser executado, urgia completar a concepção de A Grande Síntese que encara o universo em função do homem, enquadrando-a em uma concepção ainda mais vasta, que encara o universo em função de Deus. Se esse livro nos dizia como é construído a universo, era necessário explicar por que ele é assim construído a não de outro modo. 

Era indispensável contemplá-la não mais apenas em relação ao homem, mas em relação aos fins supremos da Criação impunha-se ultrapassar os confins de nosso universo para imergir no pensamento de Deus transcendente. Que está além de toda a Sua Criação, por nós contemplada. 

Era imprescindível alcançar a solução dos problemas últimos, diante da qual a mente deve conter-se saciada e assim ascender até à fonte de tudo, às causas primeiras de que tudo deriva. 

Para tocar o extremo limite do conhecimento, era forçoso subir até o plano teológico, de modo que a visão de A Grande Síntese assim fosse compreendida e colocada no seu justo lugar, na mais vasta visão de Deus e Universo. 

O primeiro livro parte da Gênese para alcançar o homem, no segundo se contempla o pensamento e a abra de Deus, mesmo antes da Gênese e se atinge a solução última do problema da ser até as confins do espaço e do tempo, onde a Criação terá atingido as suas metas.

Tudo isto confirma o caráter continuamente ascensional de toda a Obra, que agora supera as últimas etapas da sublimação. O próprio método de recepção se faz mais completo e profundo e a intuição conceptual e inspirativa torna-se visão orgânico que resolve os últimas problemas da ser nos braços de Deus. 

Mas, nestas primeiras etapas da terceira trilogia, da sublimação, quer, antes, no terreno científico, como depois, no teológico, a ascensão, assim retomada, mantém-se sempre no plano racional. 

Que forma tomará ele no terceiro volume, última desta terceira trilogia? A visão se lançará ainda freneticamente para frente, perdendo qualquer contato com a forma mental humana?
Tratar-se-á, então, não mais de sublimação racional, de intelecto, mas de sublimação mística, de um incêndio do sentimento? Será possível levar ainda mais adiante os assomos deste, surgidas nos volumes precedentes? 

Não sabemos anda se a maturação poderá alcançar novas cimos. Mas, sem ter atingido e transposto estes, como poderemos chegar ao ultimo vértice:  

- Cristo?  

Não podamos saber porque ainda não vivemos essas maturações. 

Mas, é certo que as trajetórias já estão traçadas, tanto na vida do indivíduo, como no do mundo, tudo devendo prosseguir e amadurecer. O tempo assinala, com o seu inexorável ritmo, o desenvolvimento dos destinos.

Assim, esta grande tarefa encaminha-se para o seu término. Encontramo-nos nos últimos registros sempre mais altos, sempre mais distantes do inferno terrestre.

Superando sozinho montanhas de obstáculos, consumiu-se uma vida, mas amadureceu uma alma. Martírio de um homem, mas que se enxerta no martírio do mundo, porque una é a lei para todos:  

se quisermos redimir-nos não resta senão a Cruz de Cristo. 

E hoje, queira ou não, também a humanidade nela está pregada para a sua redenção.
Cristo fez a sua parte. Agora toca-nos fazer o nossa, acima de todas as tempestades, impassível. Deus observa e aguarda. A grande força do Evangelho está no fato de que ele jamais é superado:  

pertence ao futuro e, por isso, não envelhece. Está no fato de que ele constitui um ponto de chegada e não de partida.

Frequentemente, é necessária toda uma geração para compreender um livro. A Grande Síntese só começará a ser compreendida pelo mundo depois de vinte anos. Somente uma nova geração compreenderá toda esta Obra. 

Entrementes, resta a quem a escreveu o ultimo encargo conclusivo de acompanhar sua difusão no mundo. Depois, após a longa e exaustiva jornada, o repouso em Deus. Mas, somente assim, vivendo para o bem, vale a pena viver.

Agora que a ciclo volve ao seu fim, podemos ver que tudo se desenvolveu com a calma das coisas pré-ordenadas por uma vontade superior, segundo um plano em que cada momento está no seu lugar, na sua justa posição, ainda quando se defronta com obstáculos e quedas. 

Estas três trilogias se desenvolvam, assim, segundo o ritmo de um esquema muito mais vasto: o dos três dias após os quais Cristo ressurgiu e o desenvolvimento da Sua ideia nos milênios.

A primeira trilogia, explosiva, corresponde, pois, à primeira fase do cristianismo que avança no ímpeto de fé dos mártires. (As próprias "Mensagens Espirituais", com que se inicia a Obra, surgem! Nos primeiros três anos que vão do Natal de 1931 à Páscoa de 1933, e continua com o XIX Centenário da morte de Cristo.

Depois a igreja se consolida na Terra, após três séculos da perseguições, com o ato da Constantino e o decorrente reconhecimento oficial, da mesma forma que a A Grande Síntese, logo após as Mensagens, lança os bases científicas do sistema, partindo da matéria. Tudo isso no princípio da primeira trilogia, como do primeiro milênio.

A segunda trilogia, a da reflexão e da assimilação, representa o segundo milênio, em que a ideia de Cristo é racionalmente desenvolvida pelos pensadores, assimilada em parte pelos povos, incorporada aos hábitos e instituições. Mas, Cristo ainda dorme no sepulcro.
A terceira trilogia é da sublimação e ressurreição no espírito. Cristo ressurge.

No terceiro dia o templo é reconstruído. No terceiro milênio começa a atuação do Evangelho, até agora à espera, na vida coletiva. 

Avizinha-se o pré-anunciado Reino de Deus Entramos lia fase da luz e do triunfo. Assim, no terceiro milênio, o mundo se unificará em um só rebanho sob um só pastor: 

Cristo.

Não há dúvida da que é estranha esta impensada coincidência, seguramente não preparada, pela qual este ritmo de três elementos se repete e retorna do período trienal das Mensagens (fase preparatória), para estas três trilogias da Obra; do ritmo da ressurreição no terceiro dia e reconstrução do templo, ao dos três milênios em que o Cristianismo se afirma:  

primeiro na matéria, segundo na razão, terceiro no espírito.

Dante também se fundiu neste ritmo, na Divina Comédia. 

E a terceira trilogia nasce na Páscoa da Ressurreição de 1950, ano santo, centro do século, e se orienta para Cristo.

Mas toda a Obra não passa de um anúncio e de uma preparação, porque na alvorada do terceiro milênio Cristo romperá a pedra do sepulcro e ressurgirá triunfante. 

E a humanidade ressurgirá com Ele.

Gubbio, Páscoa de 1951.