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22/06/2015


68. 

A GRANDE SINFONIA DA VIDA

 






Olhemos novamente as harmonias da vida em seu mais profundo aspecto científico.











Também isto constitui sempre uma contemplação da beleza divina. A visão estética alimenta e eleva como a visão conceptual, que vos dá a chave daquela beleza. 

De fato, fé, arte e ciência são um canto único no seio da mesma harmonia. O mundo biológico é todo um edifício de maravilhosa arquitetura, um organismo de correspondências e permutas, uma sinfonia de harmonias e equilíbrios perfeitos.
 
Vimos que os elementos com os quais a vida constitui sua roupagem orgânica — ao mesmo tempo expressão e elaboração do psiquismo — são Hidrogênio, Carbono, Nitrogênio e Oxigênio, existentes em grande abundância na atmosfera, no momento da gênese. 

Esses são os corpos que encontrais como elementos organógenos na estrutura plasmática, nestas proporções: 

Carbono 53%, Oxigênio 23%, Nitrogênio 17%, Hidrogênio 7%. 

São encontrados no corpo humano aproximadamente nas mesmas proporções (tipo médio): 

Oxigênio 44 Kg, Carbono 22Kg, Hidrogênio 7Kg, Nitrogênio 1Kg etc. 

Todos os compostos orgânicos são construídos com esses elementos que, na grande mobilidade dos edifícios químicos da vida, circulam em permutas incessantes. 

O material orgânico é coletivo, circulante, como uma correnteza, por organismos comunicantes, como um patrimônio comum, de onde cada ser o colhe para construir a forma mais adequada à expressão e ao desenvolvimento do seu próprio psiquismo.
 
A máquina apropriada e especializada para a construção desse material, por meio dos quatro elementos, é a planta. Vimos como ela surgiu no seio das águas. As primeiras plantas, gelatinosas, a boiar nos mares, começaram a realizar a síntese dos materiais orgânicos do mundo inorgânico. 

O maravilhoso quimismo das folhas verdes iniciou a transformação da matéria morta em matéria viva, captando ao mesmo tempo e armazenando a energia que vinha da grande fonte solar. Iniciada a construção da matéria viva, esta aumentava continuamente e se acumulava, enriquecendo o patrimônio coletivo, que depois entraria em circulação nas permutas inversas entre vida vegetal e vida animal. Observai o maravilhoso equilíbrio. 

Enquanto as plantas possuem poderes construtivos e dedicam-se à função de aumentar a massa dos produtos orgânicos do planeta, os animais vivem da destruição desses produtos, utilizando para sua vida a energia solar fixada pelas plantas no material orgânico construído por elas. A planta produz, o animal consome.
 
São duas máquinas com funções opostas e inversas. A planta forma a matéria orgânica; o animal, com um processo de lenta combustão, derruba a construção, restituindo o material às condições primitivas. O primeiro processo de síntese se equilibra no segundo processo complementar de decomposição.
 


Cabe, pois, à planta, a glória de ter sabido cumprir o esforço da primeira construção orgânica; sem ela, a superior vida animal não teria podido formar-se e subsistir. Hoje, também deveis vossa vida ao trabalho construtivo das plantas.
 
No estado natural, os elementos químicos básicos da vida acham-se combinados entre si, ou seja, Carbono e Hidrogênio unidos com Oxigênio, sob a forma de anidrido carbônico (CO2) e água (H2O). 

A planta é a máquina que realiza a separação do Carbono e Hidrogênio, do Oxigênio. Na molécula de anidrido carbônico, composta de um átomo de Carbono e dois de Oxigênio, a planta libera no ar o Oxigênio e assimila o Carbono. 

Na molécula da água, construída com dois átomos de Hidrogênio combinados com um átomo de Oxigênio, o processo é igual: libera no ar o Oxigênio e assimila o Hidrogênio.
 
No animal ocorre o processo inverso. Na respiração, ele recombina o oxigênio com o carbono e o hidrogênio e, assim combinados, ele os restitui sob a forma de anidrido carbônico e água. 

Assim, animais e plantas realizam sua inversa respiração e, na contínua compensação das funções invertidas, mantém-se o equilíbrio. Esse antagonismo de funções vegetais e animais permite que a vida possa perdurar indefinidamente. Também na vida nada se cria e nada se destrói, mas tudo se transforma. 

Eis a nova confirmação do princípio geral, pelo qual cada fenômeno jamais se move numa direção única, retilínea, mas, ao invés, é cíclica, com inversões e retornos sobre si mesmo. Mesmo na química da vida, o que nasce morre, e o que morre renasce.
 
Imaginai em que imensa usina de construções vitais se transformou a Terra, com a progressiva expansão de plantas sobre os continentes emersos. Mares ilimitados de substância verde trabalham sem repouso na construção da matéria prima, de que depois formar-se-á cada ser vivo. 

Miríades de folhas estendem-se ao sol, ávidas para surpreender e agarrar cada átomo de carbono e cada raio de luz. O ar que circula entre elas fornece o anidrido carbônico e, sob a ação da luz, a clorofila absorve-lhe a vida, alimentando-se de carbono. 



Não se perde um único átomo dele, o imenso mar de folhas aspira cada molécula do alimento gasoso. Nem um raio de sol cai inútil. A torrente de luz, onde quer que desça, fecunda uma vida. 

A química orgânica, em sua instabilidade, mantém escancaradas as portas e transforma a substância da energia em vida. Debaixo de vossos olhos, pelos campos intermináveis, realiza-se a cada instante a transformação de $ \beta $ em $ \alpha $

E o prodígio dessa transformação realizado a cada dia pelas plantas, criaturas menores, irmãs vossas, verdadeiras máquinas sintéticas de ação solar. Se não houvesse quem, nos primeiros degraus da vida, realizasse este primeiro trabalho de transformação, nem mesmo seria possível o trabalho mais elevado que realizais no campo orgânico e psíquico.
 
O equilíbrio vegetal-animal completa-se aqui em equilíbrio mais amplo, porque essa permuta contínua de combinações químicas comunicantes inclui no fundo uma permuta dinâmica em que, por meio de contínuas transformações, a energia transmite-se e circula de forma em forma, de ser em ser. 



Tudo deriva da grande fonte de energia que é o sol. Observai como são perceptíveis, no seio do sistema solar, todas as fases do transformismo. 

No sol ocorre a primeira transformação físico-dinâmica: a matéria dissolve-se em radiações que, interceptadas pela Terra, aí se transformam em vida. No transformismo da matéria nada se destrói. 

As plantas fixam a energia solar e dela se alimentam para as finalidades da vida. O sol desagrega seus materiais, as radiações chegam à Terra, a vida cresce sem cessar. 

Tudo provém da doação de si, do centro do sistema. Os compostos químicos, pelo irrefreável impulso profundo da evolução, combinam-se em fórmulas cada vez mais complexas. As máquinas vivas acumulam energia solar, transformando-a em compostos de cada vez mais alta estrutura química. 

O animal, por sua vez, se destrói grandes quantidades de material orgânico fornecido pelas plantas, reconstrói, como qualidade, o que se destruiu como quantidade (o potencial da substância indestrutível permanece sempre idêntico), realizando operações químicas e fabricando materiais ainda mais complexos. Complexidade progressiva, expressão e meio de construção de um psiquismo íntimo e progressivo, diretor do fenômeno.
 
Se nas plantas temos o primeiro degrau da transformação da energia em vida e da constituição do material orgânico, no animal, subimos a um degrau mais alto: o da transformação da vida em psiquismo. A destruição do produto da vida das plantas significa construção de um material ainda mais perfeito: o espírito. 

Divisão de trabalho, especialização de funções, transformações contínuas e infinitesimais deslocamentos progressivos. Só no animal começa verdadeiramente a função específica da constituição daquele psiquismo cuja gênese observamos, e que se tornará, à medida que sobe, cada vez mais a nota fundamental dos fenômenos vitais. 


Vede como da matéria solar chega-se, por sucessivas transformações, aos fenômenos do espírito; em cada uma dessas transformações podeis descobrir sempre a mesma substância que, embora mudando de forma, nada aumenta e nada destrói de si mesma, mas se refina seu modo de ser com qualidades cada vez mais sutis, complexas e perfeitas.
 
O físio-dínamo-psiquismo de minha síntese monista o vedes aqui tangível, fato objetivo, realidade vossa cotidiana, e não é possível negá-lo.
 
Esse transformismo é um ciclo compacto, inalterável, em que estão presos e amarrados todos os fenômenos. 

Nem a experiência, nem a lógica vos permitem escapar. A energia solar, assimilada e transformada pelas plantas, torna-se, no animal, calor, movimento, e, como última transformação do dinamismo vital, energia nervosa. Esta, no homem, torna-se
função psíquica e espiritual. 

Eis traçada a linha que, através das espécies físicas, dinâmicas e psíquicas, une a matéria ao gênio. Eis onde, depois de tantas transformações, culmina a energia das radiações solares. 

Das torrentes ilimitadas só encontrais um riacho, mas sua potência e sua perfeição nada vos fizeram perder da substância.
 
No ápice de todo o grande trabalho, o termo mais alto da escada de vosso universo, a máquina mais complexa e delicada, é vossa psique. 

Nos órgãos sensórios ocorre continuamente essa elevação de vibrações ambientais em vibrações de ordem superior; pelo ouvido, o som torna-se música; pelos olhos, a luz torna-se beleza; pelos sentidos, o choque das forças ambientais torna-se instinto e consciência. A energia é transformada, por meio do mecanismo da vida, de suas formas inferiores nas mais altas formas nervosas de sensação, sentimento e pensamento. 

As individuações biológicas constituem centros de elaboração da substância, em que atua o transformismo evolutivo da fase b para a. Assim à
florescência da vida, realizada por meio das radiações solares, ascende a florescência de consciência. 

Como a energia universal espalhou por toda a parte a vida, assim esta, por profunda elaboração, gera em toda parte o psiquismo. O grande rio da energia, que tinha sido matéria, transforma-se no mar imenso da vida, que se transforma em consciência. 

O universo, que caminhara até a vida, finalmente sente e olha para si mesmo. Na co-participação do material orgânico, entre todos os seres vivos, reside a origem da lei básica da vida: 

a luta.
 
 
O universo sente e olha para si mesmo



O que vos devia tornar irmãos, vos faz também, inevitavelmente, rivais. O patrimônio comum, obtido por longas e laboriosas transformações, é limitado; a substância que constitui um organismo, é ótimo material de nutrição para o outro. Daí a luta, o recíproco dilacerar-se, a rivalidade orgânica de tantos aparelhos digestivos, mais ou menos complexos e evoluídos, armados com todos os instrumentos de ataque e defesa da vida. 

Esta é, indiscutivelmente, a lei do planeta no nível animal; mas o homem, com seu psiquismo, começa a elevar-se acima dela, então percebe a diferença. O horror que o homem experimenta, pelas formas ferozes e agressivas da vida, é proporcional a seu grau de evolução. 

Os homens inferiores, ainda não emergidos espiritualmente da fase animal, podem agitar-se felizes numa forma de vida brutal e atroz, que para eles é a expressão normal da própria natureza. 

Mas os seres mais evoluídos, embora fisicamente vestidos com um corpo humano, organicamente semelhante, não podem evitar de sentir, é absolutamente inadmissível, esse sistema de vida e se encontram numa encruzilhada: ou aceitar uma vida bestial, ou lutar para civilizar a humanidade. 

Esta é nova forma de luta, que os primeiros ainda não enxergam, imersos como estão na luta a nível animal; não enxergam e condenam os outros, pois os separam abismos de incompreensão. No entanto, são os únicos ativos e verdadeiramente produtores, são os grandes que arrastam o mundo: são as antenas da evolução.
 
A inteligência e a ciência, dominando as forças naturais, submetem a natureza ao homem, provendo as necessidades materiais, e eliminam a necessidade da luta em suas formas brutais inferiores; sutilizam-na e a transformam em luta nervosa e psíquica, dirigida a conquistas superiores. Não mais luta de músculos, mas de nervos; não mais de paixões, mas de inteligência. 

Doutro lado, os princípios éticos das religiões e da sociedade educam o homem para as virtudes morais e cívicas superiores, preparando-o para saber viver com uma psicologia de elaboração evangélica, no ambiente mais elevado que a ciência terá preparado.
 
O homem é o agente desta transformação, último anel de todas as transformações precedentes. Assim, a Terra tornar-se-á um jardim, governado por uma humanidade mais sábia. Esta é a transformação biológica que vos espera. 





Na ascensão humana espiritual, que se realiza nestes milênios e se intensifica no momento atual, numa fase decisiva, culmina o esforço de toda a ilimitada evolução que a preparou, que a sustenta e que hoje a impõe.