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08/06/2015


60. 

A LEI BIOLÓGICA DA RENOVAÇÃO











Com a vida, o transformismo da estequiogênese e da evolução dinâmica acelera ainda mais seu ritmo. 













trajetória daquele devenir fenomênico, que estudamos nas fases $ \gamma $ e $ \beta $, torna-se a linha de vosso destino. Matéria e energia não nascem e morrem tão rapidamente, não mudam com essa velocidade. 

A vida tem que nascer e morrer sem jamais deter-se, sem possibilidade de parar esse movimento mais rápido, inexoravelmente batido por um ritmo mais veloz de tempo. O equilíbrio da vida é o equilíbrio do voo, em que a estabilidade está condicionada à velocidade. 

Vimos que a estabilidade das combinações químicas de um metabolismo que se renova sempre é a característica fundamental do fenômeno biológico. Nascer e morrer, morrer e nascer, essa é a trama da vida. A constituição cinética da substância se exterioriza e aparece cada vez mais evidente, à proporção que a evolução ascende até sua forma mais alta, a vida. 

matéria é tomada num turbilhão cada vez mais veloz, que a permeia em sua essência mais íntima, para que possa responder aos novos impulsos do ser e tornar-se meio de desenvolvimento do novo princípio psíquico da vida, $ \alpha $.

Parece-vos uma fraqueza da vida, essa fragilidade, essa contínua necessidade de reconstrução, para suprir sua contínua dispersão e desgaste; mas essa é sua força. Parece-vos que não sabe manter-se numa estabilidade constante. Ao contrário, esse transformismo mais rápido é a primeira condição de suas capacidades ascensionais, um poder absolutamente novo no caminho da evolução. 

Na vida, o espasmo da ascensão se torna mais intenso, rapidíssimo. O turbilhão psíquico nasce e se desenvolve cada vez mais poderoso, de forma em forma; a veste da matéria se torna cada vez mais sutil; o pensamento divino se torna cada vez mais transparente. É necessário reconstruir, continuamente, vossos corpos, e só uma troca ou recâmbio constante pode sustentá-los. 

Esta, que parece vossa imperfeição, constitui vosso poder. Neste ritmo rápido tendes que viver: 

juventude e velhice, sem jamais parar. 

Mas nessa corrida é indispensável experimentar continuamente, provar, assimilar, avançar espiritualmente, esta é a vida.

Poder existir à custa de uma renovação contínua significa tão somente ter que marchar, cada dia, na grande estrada da evolução. Vós vos prendeis à forma; acreditais que sois matéria; quereríeis paralisar esse maravilhoso movimento; para prolongar a ilusão de um dia, gostaríeis de parar a marcha estupenda. 

Mas possuís, além da juventude do corpo, a inexaurível e eterna juventude de uma vida maior, não a terrena. Naquela sois indestrutíveis, eternamente novos e progressistas, sois jovens, não no corpo caduco, mas no espírito eterno. Não deis importância às alvoradas e aos crepúsculos de um dia, pois cada crepúsculo prepara nova aurora. É lógica simplicíssima, evidente lei de equilíbrio esta, pela qual tudo o que nasce, morre, mas também tudo o que morre tem de renascer.

Não vos iludais a vós mesmos; não percais um tempo precioso no esforço inútil de tentar parar a vida. A beleza da mulher deve servir à maternidade; a força do homem é feita para desgastar-se no trabalho. Só quando não tiverdes fraudado a Lei, mas houverdes criado de acordo com sua ordem, vosso tempo “não será passado” e não tereis lamentações. Se pedis o absurdo, tereis que colher ilusões. 

Colocai-vos no movimento, não na imobilidade. Desembaraçai vosso pensamento do passado que vos prende. Superai-o. O passado morreu e contém o menos. Interessa o futuro, que contém o mais. A sabedoria não está no passado, mas no futuro. Só vossa ignorância pode fazer que acrediteis na possibilidade de violar e fraudar a Lei, de deter-lhe o caminho fatal. Se parais, o pensamento cristaliza-se, o tédio vos persegue, a satisfação de todas as necessidades, de todos os desejos vos torna ineptos; ócio significa morte por inanição. 

O repouso só é belo como pausa, como consequência de um trabalho anterior e condição de novo trabalho. A necessidade de evoluir, imposta pela Lei, está gravada no mais profundo instinto de vossa alma: a insaciabilidade. 

A insatisfação que permanece no âmago de todas as vossas realizações, qualquer desejo satisfeito que vos faz debruçar para outro horizonte mais amplo, o descontentamento que vos atormenta logo que parais, o ilimitado poder de ambicionar, inato em vosso espírito, tudo vos diz que sois feitos para caminhar. 

Isso pode constituir ânsia e ilusão, mas é estrada de progresso, é o esforço da ascensão. A centelha, que guia vossa vida, sente a Lei, mesmo sem o saberdes; segue-a com seu instinto profundo, indelével, que jamais conseguireis fazer calar. Isso não é condenação nem ônus de ilusões. 

Moveis-vos de acordo com a Lei, criai substancialmente, e sentireis quanta alegria vos inundará o espírito! Ao invés, que tristeza sutil vos prende quando vosso tempo é desperdiçado! Ocasiões perdidas, posições estacionárias: o universo caminhou e ficasteis parados em vossa preguiça. A alma o sente, entristece-se e chora. Então gritais: 


Vanitas vanitatum



Mas vão sois vós: a vida não é vã. Não desperdiceis vossas energias, não pareis à beira do caminho, não adormeçais enquanto a vida está desperta e caminha; se cada dia tiverdes sabido criar no espírito e na eternidade, se tiverdes dado a cada ato esse objetivo mais alto e mais substancial, tereis caminhado com o tempo e não direis: 

o tempo passou! 

Tereis renovado vossa juventude com vosso trabalho e não tereis envelhecido tristemente. Então não direis mais da vida: 

vanitas vanitatum.

Realizai o trabalho oferecido por vosso destino e não invejeis quem está no ócio. Vós, humildes, não invejeis os ricos e poderosos, porque eles têm outros trabalhos a fazer, outros problemas a resolver, outros pesos a suportar.

Ninguém repousa verdadeiramente. Não há parada para ninguém no caminho da vida. Mas considerai-vos todos soldados do mesmo exército, encarregados de trabalhos diferentes, coordenados ao mesmo objetivo. Não invejeis aqueles cuja aparência os apresenta felizes: a verdadeira alegria não se usurpa, não se herda. Aquilo que não se ganhou não dá satisfação, não se aprecia e se desperdiça.

A alma quer a sua alegria, sua propriedade, fruto de seu trabalho; só isso é apreciado, só isso traz prazer. As vantagens gratuitas não trazem satisfação. A Lei distribui alegria e dores acima de vossas partilhas humanas, com profunda justiça. Como poderíeis ser felizes, se vossas vidas fossem mais substanciais! Por que acumular, com qualquer meio, se tudo deverá ser deixado? 

Considerai antes a vida como campo de adestramento, onde estais para temperar vossas forças, para provar vossas capacidades, para aprender novos caminhos, para aprofundar vossa consciência. Estais no mundo para construir não na areia, mas para edificar-vos a vós mesmos.

Não busqueis o absurdo de querer prender-vos definitivamente numa matéria instável e caduca; a troca que a vida a submete, não permite que sua imagem resista um instante. Desprezai a miragem das formas. O que existe fica e sobrevive à renovação contínua dos meios, o que verdadeiramente importa sois vós, vossa personalidade espiritual. Não façais do mundo um fim, pois é apenas um meio. 

Não invertais as posições e as funções. Não vos transformeis de senhores em servos. Caminhai. Lançai-vos à grande correnteza. A vida é feita para correr e avançar. Triste é o lamento do tempo perdido no sono, do tempo que não trouxe nenhum progresso e vos deixou para trás, estacionários; triste é o choro da alma que se vê iludida em sua maior necessidade, em que a Lei fala e exprime-se. 

Avançai, se não quiserdes que a correnteza vos ultrapasse e vos abandone. Sede insaciáveis, como Deus vos quer, trabalhando substancialmente, criando no bem, na eternidade.

Como podeis ser tão crianças, para acreditar que num universo tão perfeito a felicidade possa ser usurpada por vias transversas, com meios injustos? Trabalhai: procurai vossas alegrias, conquistai-as com vosso trabalho. 

Vossa alma jamais se alegrará com as maiores conquistas se não forem vossas, se não forem produto de vosso esforço, testemunho e medida de vossa capacidade. Mais que o resultado exterior, a alma quer a demonstração de seu íntimo poder, quer a prova de sua sabedoria progressiva, quer o obstáculo para poder vencê-lo, quer a prova constante de seu valor íntimo e indestrutível.

O resultado prático, concreto, na economia da vida, é quase um produto secundário e de refugo. Por isso, a Lei não cuida dele e, logo que sai das mãos do homem, abandona-o à mercê de forças de ordem inferior. Como é triste ver vosso contínuo esforço inútil para realizar-vos num mundo ingrato e rebelde, para imprimirdes na matéria o sopro de vossa alma eterna! 

Que trágico espetáculo, o inconciliável contraste entre a vontade e os meios, entre o pensamento e sua realização! Por causa dessa correspondência inadequada, dessa incurável impotência da matéria, as maiores almas, muitas vezes abatem-se exaustas aos pés de seus ideais, altos como rochas, cujos cimos resplandecem fora da Terra.

Terra móvel e vã, que recolhe a ruína de todas as vossas grandezas humanas! E como podeis ainda insistir no doloroso jogo, ou concluir tristemente que nascesteis apenas para colher ilusões?

Concebei a vida não mais na superfície, mas em sua realidade mais profunda, e se dissipará a condenação aparente; construí no espírito, que mantém eternamente as impressões, e vossas aspirações encontrarão eterna expressão.

Este ritmo mais rápido da vida, cuja essência e origem vimos no estudo dos movimentos vorticosos, manifesta-se nas formas orgânicas como uma permuta química contínua. Tal como a vida psíquica é um veículo em marcha, que avança de curva em curva, de estação em estação, sem possibilidade de parar, assim a vida orgânica é uma renovação contínua; o material de que é constituída é uma corrente. 

Esse material, no entanto, no seu conjunto, é sempre o mesmo, move-se circulando de organismo em organismo. A vida é feita de unidades comunicantes, ligadas em indissolúvel vínculo por contínuas permutas do material constitutivo. Como um rio, em que sempre mudam as águas, assim o ser se mantém, na mudança dos elementos constitutivos, sua própria individualidade.

A lógica vos indica a presença de um princípio superior e diferente de cada uma das partes componentes, porque o mesmo material é plasmado diferentemente, individualizado em diferentes formas específicas, de acordo com a natureza do ser, que dele se apropria. 

O organismo superior é uma verdadeira sociedade de células, com funções distintas, mas há uma coordenação de funções de cada uma das unidades menores diante das maiores; há uma subordinação do interesse individual ao coletivo. 

Os organismos superiores são agrupamentos associados, semelhantes à sociedade humana, em que existe um poder central dirigente. As unidades componentes nascem e morrem, de uma vida menor englobada no âmbito da vida maior. Basta o fato de que ela permanece constante, para demonstrar a existência em vós de uma individualidade superior e independente. 

Vede como à vida e ao seu desenvolvimento está subordinado todo o transformismo dos materiais tomados na sua circulação; à vida maior são oferecidas em holocausto, como a um interesse superior, todas as vidas menores que a atravessam e nela se sustentam. 

Contínuos nascimentos e mortes menores, coordenados num organismo que, por sua vez, nasce, morre e se coordena em organismos coletivos mais amplos; que, por sua vez, nascem e morrem, sejam espécies animais ou famílias, povos, civilizações, humanidades. 

A vida se organiza coordenando em unidade, de acordo com o princípio das unidades coletivas.

Embora a substância viva e morra continuamente, a vida jamais se extingue. Renovar-se é sua condição. A vida e a morte são apenas fases dessa renovação, a vida e a morte da unidade menor constituem a permuta da unidade maior de que ela é parte orgânica. 

Nessa rede de leis, nas quais ocorrem os fenômenos e nas quais a matéria está presa, não há lugar para absurdos, como seria o fim de qualquer unidade menor ou maior. 

Ao contrário, tudo se reagrupa em unidades coletivas e coordena a própria evolução, na evolução das unidades superiores, de que é o elemento constitutivo (lei dos ciclos múltiplos).