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14/05/2015


56. 

PARALELOS EM QUÍMICA ORGÂNICA










Procuraremos na química orgânica algum paralelo ou correspondência ao princípio dos movimentos vorticosos.
 




 




Depois de havermos observado a gênese da vida em sua íntima e profunda realidade, dispomo-nos agora a caminhar para o exterior, para aquela aparência, mais sensória, portanto, mais facilmente compreensível para vós. Vários fenômenos da química orgânica mostram-vos que a estrutura do fenômeno vital corresponde a dos movimentos vorticosos observados.
 
Enquanto as principais reações da química mineral são instantâneas e totais, as da química orgânica são, geralmente, progressivas e lentas. A mecânica das reações indica-vos que só no primeiro caso o equilíbrio químico do sistema é quase imediatamente atingido, ao passo que nas reações orgânicas é necessário muito tempo antes que se chegue a esse estado. 

Essas reações progressivas, mesmo simples em aparência, são em realidade uma superposição de reações sucessivas, que determinam produtos intermediários muito efêmeros para serem percebidos. Essa mobilidade química, aparentemente menor, é devida, em substância, ao sistema vorticoso que resiste (inércia) contra qualquer ação que tenda a deslocar-lhe o equilíbrio; ela é mais poderosa e profunda que o sistema atômico simples, porque, também, é um sistema mais complexo. 

O entrelaçamento das linhas de força que devem ser diversamente dirigidas é muito mais amplo, mas em compensação, pela mesma razão, o sistema está apto a conservar por mais tempo os tipos de movimento uma vez omitidos e absorvidos (germe da hereditariedade).
 
Somente este dinamismo mais profundo, cuja estrutura cinética estudamos, podia produzir a síntese química da vida a partir da matéria inorgânica. A substância dos intercâmbios vitais consiste num ciclo, mediante o qual o íntimo dinamismo do sistema transporta a matéria inorgânica em combinações químicas para ela extraordinárias e complicadíssimas, que jamais teria conseguido sozinha. 

A característica da química da vida é a necessidade de uma contínua renovação íntima, com a qual se reconstitui de uma rápida deterioração; um desfazer-se constante de equilíbrios que, no entanto, reconstroem-se sempre, de modo que, no conjunto, o equilíbrio permanece, mas condicionado por intenso e íntimo trabalho. 

A estabilidade permanece através da instabilidade de todos os seus momentos, à custa de ser uma correnteza em movimento. A própria morte, que parece a destruição do edifício — porque determina o momento em que os elementos se apressam a descer os degraus dessa estrutura muito complexa, a fim de retornarem ao seu estado primitivo mais simples — não representa incapacidade de manter-se no mais alto equilíbrio da vida, mas é efeito da rápida sucessão sempre ativa, que jamais pára, do dinamismo do sistema. 

Morte é sinônimo de renovação. Por isso, a vida persiste perenemente no ritmo veloz de seu devenir. Fenômeno antiestático por excelência, a vida não é possível sem renovação. O processo vital é a resultante evidente do movimento contínuo de introdução e expulsão, de associação e de desassociação, de anabolismo (assimilação) e de catabolismo (desassimilação), o que leva à regeneração constante das células. 

A vida, desde sua primitiva fase orgânica, que só contém os primeiros rudimentos do psiquismo, é sua meta — no homem atingirá sua autonomia — é dinamismo intenso produzido por contínuo e complexo decompor-se e recompor-se da matéria em combinações químicas fugacíssimas. Dentro desse dinamismo, as substâncias são tomadas e levadas através do organismo, são absorvidas, assimiladas, fundidas na palpitação vital e, depois de haver demorado nele, são eliminadas. 

Sua passagem pelo ciclo orgânico é, para essas substâncias, uma espécie de febre, de corrida insólita, da qual escapam para repousar em seu equilíbrio químico inorgânico assim que se livram dessa imposição. Ora, é esse exatamente o fenômeno que ocorre num turbilhão, que prende em seu movimento rotatório sobretudo os corpos leves (peso atômico baixo, menor resistência ou inércia), arrasta-os no seu vórtice e, finalmente, abandona-os. 

Acontece isso enquanto, constantemente, muda o material constitutivo do turbilhão, embora conserve independente sua individualidade. Quem mantém intacto, num e noutro caso desses dois fenômenos afins, esse equilíbrio superior, enquanto dentro de si os edifícios atômicos passam rapidamente de um sistema de equilíbrio a outro? Quem dá a essa instabilidade o poder de manter-se indefinidamente, de retificar-se, de reconstituir-se a força de resistir contra todos os impulsos contrários, que tendem a trazer desvios? 

O fenômeno da vida não é fenômeno transitório nem acidental. Seus equilíbrios instáveis não são meros acasos químicos, porque eles se fixaram substancialmente no caminho da evolução. Onde se encontrará essa nova capacidade de autonomia, absolutamente desconhecida no mundo da química inorgânica, senão na estrutura especial cinética dos movimentos vorticosos? 

Diante do insuperável determinismo da matéria, encontramo-nos aqui nos primeiros passos daquela ascensão que levará, na fase de consciência, ao livre arbítrio, uma novíssima liberdade de movimentos que, no entanto, não destrói o equilíbrio nem a estabilidade integral do sistema. Sem dúvida o movimento vorticoso enfeixa o processo típico de isolamento, no ambiente, de um sistema de forças, portanto, princípio da individualidade. 

Um turbilhão de forças já é um eu distinto de tudo o que o circunda, com o qual entra em relação, mas não se funde com o devenir, que tem direção e meta própria, com uma troca e um princípio diretor de funcionamento que dá, de imediato, a imagem do organismo e da vida. 

Só o sistema cinético do vórtice contém as características de elasticidade, de equilíbrio móvel, tão distantes da rigidez inorgânica, que lembram tanto o estado coloidal, fundamental na vida. Este, ao mesmo tempo que assegura a estabilidade da estrutura dos protoplasmas vivos, neles favorece maravilhosamente o desenvolvimento das reações químicas. 

O vórtice recebe e reage; admite, em vista de sua estrutura, uma muito maior velocidade de reações do que o sistema atômico e por isso é a sede mais adequada para a evolução das reações químicas. Sistema plástico, móvel e flexível, tal como a vida; no entanto, resistente. 

Ele tem a faculdade de assimilar os impulsos exteriores, de torná-los próprios sem quebrá-los, de conservar-lhes traços no próprio movimento e de registrar a resultante de suas combinações (memória). Ele rende-se e transforma-se, suporta, mas não esquece nada.
 

Sua elasticidade significa a capacidade de retomar o equilíbrio de acordo com a lei de seu movimento. Passivo e ativo ao mesmo tempo, tangencia todas as características da vida.
Outra aproximação entre as características dos fenômenos vitais e a dos movimentos vorticosos: a admissão da matéria na circulação da vida não ocorre ao acaso. Vimos que são preferidos os pesos atômicos baixos mas não é só. 

O vórtice vital estabelece ligações entre átomo e átomo. Quando estes são tomados no movimento da vida, estabelecem-se entre eles vias de comunicação. Enquanto na química inorgânica só temos os movimentos planetários dos sistemas atômicos fechados, simplesmente coordenados em sistemas moleculares, em equilíbrio estável; na química orgânica temos sistemas atômicos abertos e comunicantes, em equilíbrio instável. 

Os átomos estão reunidos em cadeia e tornam-se solidários dentro de um mesmo fluxo dinâmico, guiados pelo mesmo impulso e pela mesma vontade. Na matéria, ficam mutuamente estranhos em sua estrutura íntima, embora vizinhos e equilibrados. Na vida, apertam-se num abraço e movimentam-se numa única direção. Esta é a base da unidade orgânica. 

Quando a unidade se dissolve, as passagens fecham-se, os sistemas tornam a isolar-se, reciprocamente indiferentes. Com o vórtice, terminou aquela vontade coletiva que os irmanava. Essas cadeias dinâmicas são abertas. Os átomos presos no turbilhão vital são modificados em seu movimento íntimo e arrastados num movimento diferente. Nessa viagem, são elaborados, sua constituição química é modificada.
 
Terminado seu trajeto, são abandonados não mais vivos, mas inertes. Os átomos são, assim, alinhados em séries bipolares e a viagem da vida realiza-se entre dois extremos: nascimento e morte.
 
Agora sabeis que somente as substâncias orgânicas, constituídas de cadeias abertas de átomos (ou grupo de átomos) são aceitas pelos seres no âmbito da vida, enquanto as substâncias cíclicas, os compostos de cadeia fechada, não são tolerados. Tudo isso coincide com a estrutura cinética do sistema vorticoso, aberto e pronto a admitir no próprio âmbito sempre novos impulsos. 

É óbvio que, num sistema cíclico, uma cadeia de átomos fechada em si mesma não pode ser admitida, porque não oferece acesso. A linha das transformações químicas é dada pelo eixo do sistema vorticoso.
 
Vimos que esse eixo era dado pela onda degradada de $ \beta $. Assim, cada indivíduo biológico, se é físico no exterior, é sempre, embora em graus diferentes, psíquico em seu centro interior, justamente porque é de origem elétrica o eixo do sistema vorticoso. Nos primeiros níveis, a eletricidade e o psiquismo, que dela nascerá nos níveis mais elevados, estão sempre no centro do fenômeno vital. 

Como o eixo atrai para o redor de si um sistema vorticoso, assim o princípio psíquico atrai e sustenta em torno de si uma vestimenta orgânica. Então, a linha do transformismo vital — seja cadeia de reações químicas, seja desenvolvimento individual, seja evolução biológica — já estava traçada e contida na linha da expansão dinâmica (onda). Vede como a evolução da vida, em seu impulso interior, determinante das formas, está em linha de continuidade com a difusão de $ \beta $ e com a evolução das espécies dinâmicas.