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05/04/2015


26. 

ESTUDO DA TRAJETÓRIA TÍPICA DOS
MOVIMENTOS FENOMÊNICOS






É indispensável, todavia, em primeiro lugar, aprofundar ainda mais o estudo e passar da simples exposição descritiva dos movimentos fenomênicos, ao campo dos íntimos porquês. 









Cada fase, antes de estabilizar-se em definitiva assimilação ao sistema, é percorrida três vezes, progredindo, e depois duas vezes, regredindo; isto significa ser vivida cinco vezes, em direções opostas. A razão desse retorno cíclico de duas fases involutivas sobre três evolutivas, é exigida pelo fato de que o voltar a existir, três vezes repetidas, no nível de cada fase, é a primeira condição para a sua assimilação profunda no ser que em si mesmo a fixa. Trata-se de uma vida tríplice, em três posições diferentes, que o ser tem de viver em cada degrau, a fim de poder dominá-lo definitivamente. 

Nas duas fases de regresso, o passado volta, o ser resume, relembra e revive. Assim, o que é novo fundamenta-se em bases novamente consolidadas. 

O conceito fundamental que existe na ideia de trindade é um princípio de ordem e de equilíbrio


Triquetra: é um talismã de origem celta, simboliza a vida, morte e renascimento.


Outro significado dessa descida: ela representa a desintegração do velho material de construção, para nova construção, germe de potencialidade maior, porque só esse núcleo mais poderoso pode alcançar culminâncias mais altas, exatamente como faríeis se quisésseis, em lugar de velha casa de dois pavimentos, construir outra de seis. 

Só através desse processo de íntima destruição e reconstrução, o fenômeno elabora-se e amadurece; só através desse retorno sobre si mesmo, dessa compressão pelo vórtice, dessa fase de concentração, o impulso é fecundado para ascensões maiores. Esse refazer-se desde o início, voltando sobre o próprio caminho, é um concentrar-se do fenômeno sobre si mesmo, a fim de explodir com maior força. 

Para avançar, primeiro é preciso retroceder, demolir o que está velho, depois reconstruir, sempre partindo do princípio, colocando em alicerces mais sólidos as bases de um organismo novo de maior potencialidade e destinado a um maior desenvolvimento. Pois na lei tudo avança por continuidade, (“natura non facit saltus” — “a natureza não dá saltos”), e cada progresso tem que ser profundamente amadurecido.

Compreendereis ainda melhor, ao passar dos conceitos abstratos à exemplificação de casos concretos. Verificareis como vossa realidade corresponde aos princípios expostos acima. Essa necessidade de refazer-se desde o início, reaproximando-se das origens do fenômeno é universal. Para reedificar, é preciso destruir. O ciclo, proporcionado pela espiral que se abre e se fecha, é a linha da transformação de todas as formas do ser. Se, por vezes, parece-vos não ocorrer assim, é porque só tendes sob os olhos fragmentos de fenômenos. A unidade do princípio permite-nos descobrir exemplos nos campos mais díspares.

No universo da matéria, $ \gamma $ , encontrais a linha da espiral no desenvolvimento das nebulosas. Aí a matéria é um vórtice centrífugo de expansão, projeta-se no espaço, numa poeira sideral, precisamente formando uma espiral, que apresenta sua própria juventude, madureza e velhice; isto é, atinge um máximo de abertura espacial provocada pelo impulso que o vórtice, germe do fenômeno, imprimiu-lhe, máximo que não pode superar. 



Depois disso, retrocede. O ciclo torna a fechar-se sobre si mesmo porque, enquanto a espiral se abre, partindo do nível $ \gamma $ , ocorre aquela íntima elaboração da matéria de que falamos na série estequiogenética, pela qual a matéria se desagrega e $ \gamma $ volta a $ \beta $

Como vimos, a energia se canaliza por sua vez em correntes, que determinam um vórtice centrípeto, concentração dinâmica (período involutivo do ciclo) num núcleo (de novo $ \gamma $ ), que constituirá o germe de um vórtice inverso centrífugo (período evolutivo do ciclo), isto é, de nova expansão sideral. Mas desta vez, $ \beta $, novamente reconstituída, assumirá os mais altos caminhos da vida e da consciência, enquanto nos confins de vosso universo, onde b ainda não amadureceu, vê-la-eis dobrar-se sobre si mesma para $ \gamma $ , assim por diante.

No campo da vida, a abertura da espiral não é um vórtice físico nem espacial: é dinâmico. Centro, expansão, limites e retornos são de caráter exclusivamente dinâmico. Nunca perguntastes por que tudo tem de nascer de uma semente? Por que o desenvolvimento subsequente não pode ultrapassar determinados limites? Por que a decadência da velhice que vai chegando em todas as coisas? Também a vida é um ciclo, com a sua fase evolutiva e involutiva, e o inexorável retorno ao ponto de partida. Que vem a ser esta mecânica que reconduz tudo ao estado de germe, esse processo da natureza por meio de contínuos regressos ao estado de semente, se não a expressão mais evidente da lei de evolução e involução cíclica? 

Na semente, o fenômeno da vida torna a fechar-se em si mesmo, num núcleo que é o centro de nova expansão. Assim por pulsações alternadas da fase de germe à fase de maturidade, procede ininterruptamente a vida. Essa íntima lei do fenômeno, momento da lei universal, estabelece os limites da forma completa, depois a destrói e reconcentra toda a sua potencialidade num germe. 

Este, de modo inexplicável, não produz o mais vindo do menos, mas simplesmente restitui o que está nele incluso por involução. Sem este inexorável retorno sobre si mesmo, que está na lei dos ciclos, a forma teria que progredir ao infinito ou então, decaindo, jamais ressurgiria para retomar, dentro de pouco tempo, em direção oposta, o mesmo caminho. Se os limites podem deslocar-se e os máximos elevar-se, isto não diz respeito ao ciclo inviolável das vidas individuais, mas ao desenvolvimento em que elas estão concorrendo, do ciclo maior de evolução e involução da espécie, sujeito a essa mesma lei.

Uma vez mais, o progresso só avança por meio de contínuos retornos a um ponto de partida que, gradualmente, desloca-se para frente. Dessa forma, o progresso das espécies orgânicas não é retilíneo, tal como viu a mente de Darwin, mas alterna-se em constantes retornos involutivos. 


Charles Darwin e sua obra: A Origem das Espécies.



Semelhante a esse caso, que as leis da vida vos oferecem, toda a criação é feita e funciona por meio de germes, à qual se segue um desenvolvimento, à semelhança de quem para construir um edifício cada vez mais alto, tem que refazer os alicerces, a fim de estabelecer bases cada vez mais sólidas. 

Vedes que cada existência é filha de uma semente, cada fenômeno está potencialmente contido num germe. Reencontrais essa lei até mesmo na evolução e involução dos universos, que são por ela levados a refazerem-se sempre, desde sua fase inicial, que pode ser -y, -x, $ \gamma $ , $ \beta $, a etc., à fase-germe em que estão inclusas e concentradas, por involução, todas as potencialidades que se desenvolverão na evolução geradora das fases superiores. 

Cada fase é percorrida, isto é, vivida, uma vez que completou a assimilação, retorna à anterior como fase ou germe de evolução de novas fases, sempre mais altas. Tudo sobe mediante contínuos retornos sobre si mesmo, do máximo ao mínimo. Tudo funciona por germes.
 

Olhai em torno de vós. Cada fato nasce por abertura de um ciclo: começa, expande-se até um máximo, depois retorna sobre si mesmo. Tudo procede assim. Qualquer coisa que queirais fazer, tereis de abrir um ciclo que depois fechará. A semente de vossos atos está no vosso pensamento; cada ação vos proporciona uma semente mais complexa, capaz de produzir outra ação ainda mais complexa. Tal como a semente produz o fruto e o fruto produz a semente, o pensamento produz a ação e a ação produz o pensamento. O princípio da semente, como o encontrais na natureza, é o princípio universal de expansão e contração dos ciclos.
 

Encontrais em vossa própria vida humana outro aspecto. Os primeiros anos de vossa existência resumem, primeiro organicamente e depois psicologicamente (vede como a fase $ \alpha $ sucede à fase $ \beta $), todas as vossas vidas orgânicas e psíquicas do passado. A cada nova retomada de um ciclo de vida, vosso ser tem que refazer-se desde o início, embora reassumindo por breve período, a fim de levar o ciclo da nova evolução a um ponto máximo, gradualmente mais adiantado. 

Assim $ \beta $, em sua fase mais alta — a fase da vida humana — também é dada pelo abrir-se e fechar-se da espiral, através da qual progride todo o sistema. Vosso atual nível de vida orgânica mais alto toca a fase $ \alpha $, prepara-vos para a criação do espírito. 

Assim vemos Vosso atual nível de vida orgânica mais alto toca a fase a, prepara-vos para a criação do espírito. Assim vemos repetir-se a lei cíclica também no campo da consciência, individual e coletiva. No primeiro caso, o processo genético de vossa consciência atua seguindo a mesma linha de desenvolvimento traçada no processo genético do cosmo, isto é, espiral dupla e inversa. 

Sua abertura é a ação, que explode irresistível, como o maior instinto da vida e a manifestação mais evidente da lei, nas consciências jovens, inespertas, que tentam o desconhecido. A ação é o primeiro grau de a, contíguo a $ \beta $. Com efeito, está cheio de energia e vazio de experiência e sabedoria. A vida humana é uma série de provas, de tentativas, de experiências. 

Mas nem por isso digais: 

“vanitas vanitatum” ( "vaidade das vaidades" ). 



Se nada se cria (em sentido absoluto), também nada se destrói. Vossos atos, vossas experiências, vossas reações ao ambiente, fixam-se em automatismos psíquicos, tornam-se hábitos, e depois serão instintos e ideias inatas. Assim, a vida orgânica desgasta-se, mas é construção de consciência; o ciclo dinâmico exaure-se, mas de seu exaurir nasce e desenvolve-se a fase a, até um máximo, dado pela potencialidade da consciência, tal como existia no início do ciclo. 

Mas aqui a expansão da espiral e seus limites de desenvolvimento são de caráter psíquico. Mudam o nível e a matéria, mas tudo repete a mesma lei. Aqui o vórtice diz respeito ao universo espiritual da consciência, mas o princípio de seu movimento é idêntico . Chegando ao seu máximo, o ciclo se cansa e envelhece, volta a seu ponto de origem, para $ \beta $, e a espiral se fecha. 

O ponto máximo de vossa vida psíquica custa a chegar e, por vezes, só aparece no fim, muito depois da juventude do viço físico, última delicada flor da alma. Depois a consciência dobra-se sobre si mesma, vem a reflexão, o fruto da experiência é absorvido e assimilado, chega a maturidade do espírito num corpo decadente. 

Poucos, só os evoluídos, chegam rápido; muitos chegam tarde; alguns, os mais novos na vida psíquica, nunca chegam. Assim o ciclo, esgotado seu impulso — que é proporcional à potência de explosão concentrada no germe da personalidade — retorna sobre si mesmo. A consciência refaz-se sobre o passado, reconcentra-se, reentra em si mesma, fecha-se à ação e à experiência: tudo assimilou. É o caminho da descida, que preludia novo impulso de ação em nova vida, novo aparecimento no mundo de provas, mais ampla experiência, uma retomada do ciclo precedente, mas em nível mais alto, porque seu ponto de partida foi mais alto.
 

Com essa nova descida, $ \beta $ torna-se mais fecunda e, da fase intermediária, torna-se base e semente do desenvolvimento de mais vasta série de ciclos que, em virtude das construções espirituais realizadas, com que os germes tornam-se mais potentes, atingirão a fase +x e seguintes. 
No campo das consciências coletivas encontrais, nas leis cíclicas, a razão do desenvolvimento e da decadência periódica das civilizações. Também aqui ocorre o mesmo fenômeno. Cada civilização, depois de uma juventude conquistadora e expansionista, atinge um máximo de maturidade, que não pode ultrapassar. Uma fatalidade que parece condenar os povos e, em dado momento, diz: “Basta”! É apenas a expressão da lei dos ciclos. Cada civilização constitui um produto espiritual coletivo: é a criação de uma alma mais vasta que a individual; deriva de um germe que potencialmente a continha toda e a levará até um máximo, além do qual não há expansão; e a maturidade só pode resultar em putrefação e decadência. 

Como todos os fenômenos, também este se esgota, se cansa, envelhece, decai e morre. Para avançar novamente, é indispensável percorrer o ritmo involutivo, a fim de recomeçar desde o início, partindo de novo germe que sintetize o máximo anteriormente atingido: novo ciclo de civilização, que poderá alcançar, por sua vez, um máximo ainda mais elevado, assim por diante. Todo o sistema dos ciclos de civilizações caminha, desse modo, lentamente, por máximos sucessivos, com alternativas de florescimentos, decadências e mortes, renascimentos e recomeços. 

É nesse curso cíclico do fenômeno que encontrais a razão da ascensão contínua das classes mais baixas da sociedade. É o desenvolvimento da linha da evolução que sempre impele para frente as camadas inferiores dos povos. Sem este conceito, não poderíeis explicar como elas constituem uma reserva inexaurível de valores desconhecidos, de que tudo consegue nascer. 

O povo é a semente das sociedades futuras; as aristocracias de toda espécie são suas sentinelas avançadas, a flor que, terminado seu desenvolvimento, deve curvar e morrer. As classes sociais inferiores só têm uma única aspiração: subir, atingir o nível das mais altas, para imitar, por sua vez, também seus vícios e erros que, no entanto, condenavam, e cair afinal na mesma conjurada estrada de cansaço e de ignomínia, logo que hajam superado a maturidade do ciclo. 

Dessa forma, por turnos e por ciclos, subindo ou descendo, como vencedores ou como vencidos, todos vivem a mesma lei: indivíduos, famílias, classes sociais, povos, humanidade. Mas a cada volta, o ciclo torna-se cada vez mais amplo, o organismo torna-se cada vez mais complexo. 



A história vos mostra que a primeira e mais simples das emersões progressivas foi dada pelos ciclos individuais; depois pelos ciclos familiares, depois investem contra classes sociais inteiras, contra povos e nações, enfim, como agora, contra a humanidade. O ciclo torna-se cada vez maior, as grandes massas fundem-se nele, até o tempo presente, em que a humanidade se torna um só povo; é chegada a hora de retomar o ciclo mais vasto de nova civilização.
 

Assim, em $ \gamma $ , $ \beta $, $ \alpha $, em qualquer parte, realiza-se o princípio da lei que vos descrevi. A espiral abre-se e fecha-se, seguindo períodos inversos de expansão e contração, volta sempre pelo caminho percorrido, para através dessa concentração de forças, tomar impulso para maiores expansões. 

Tudo é cíclico, tudo vai e vem, progride e regride, mas só retrocede para progredir mais. E, se repete, resume e repousa, isto representa apenas uma retomada de forças, um deter-se para avançar mais para o alto. Esta é a evolução em seu íntimo mecanismo; a evolução que contém o significado mais profundo do universo. A verdade de minhas palavras está escrita em vosso mais poderoso instinto e aspiração, que é a de subir, sem medida; subir eternamente.