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02/10/2015



95. 

A EVOLUÇÃO DA LUTA

 






Mostrei-vos, também no campo econômico, o caminho das ascensões humanas. 










Se uma máquina econômica que funciona em torno de um fulcro hedonístico é vossa lei atual, ela aí está para demonstrar qual é o atual nível humano:  

a luta para a conquista dos bens em quantidades limitadas, inferiores à necessidade; luta sempre em todos os campos, esforço necessário para evoluir, condição de conquistas e superações, construção de mais perfeitas estruturas econômicas. 

Também aqui, a luta tende para psiquismos mais evidentes e, embora possa parecer torturante e tormentosa, se existe, é justa, como tudo o que existe. Ela exprime o homem: 

é o máximo de justiça que este pode hoje realizar.
 
Porém ela vos impele para a frente. Se em cada nova alegria, o hábito tende a extinguir a velha alegria, é automática a demolição de toda conquista de felicidade, pois tudo se reduz à criação de novas necessidades. 

Mas a alma é uma mina de desejos e, se em sua insaciabilidade, a alegria constitui sempre uma miragem, a progressão das miragens constrói a estrada do progresso e constitui o impulso que vos faz progredir. Reduz-se tudo não a uma ilusão perpétua, mas a uma contínua expansão e realização de desejos. 



Mesmo permanecendo sempre idêntico, o esforço transforma-se em exaltação contínua de trabalho de conquista.
Eis o mecanismo secreto da Lei: 

o psiquismo animador das formas, sede da concentração dinâmico-cinética da substância no nível a, exprimindo no instinto fundamental da vida — insaciabilidade de desejos — o irresistível impulso à descentralização. 

O desejo que nasce dos íntimos movimentos da alma, cria a função, a função cria o órgão, o qual, por sua vez, consolida a função. Tudo no universo clama a paixão de exprimir seu poder interior, a paixão do Eu, que luta para sair à luz e revelar-se. 

É o esforço cotidiano da evolução que fixa nos órgãos a expansão de um desejo tenaz e vitorioso, órgãos que refletem o psiquismo motor. Este, uma vez estabilizados seus meios, deles se serve para exprimir-se cada vez ainda mais longe, aperfeiçoando-os e multiplicando-os. 

Esse impulso está sempre motivando o órgão, indomável necessidade da alma, sob forma de desejo, que jamais se deterá com a evolução, porque esta não tem limites.
 
No campo psíquico do homem, os órgãos são as aptidões e o princípio é idêntico. Sempre diante de vós está um trecho descoberto da evolução que vos aguarda, vos atrai e para o qual vos precipitais para que absorva vosso eterno instinto de subir, e vos eleve a maiores alturas. Qualquer forma de luta cai, logo que se esgota sua função criadora, para ceder lugar a outra luta destinada a criações mais elevadas. 



Estais presos num mecanismo sem fim, estais lançados num jogo de forças, mediante as quais, de ilusão em ilusão, ascendeis substancialmente. Só isso importa. A cada satisfação alcançada, parece ilusão o passado conquistado. 

O sonho reside eternamente no amanhã, até que se transforme em saciedade, e novo sonho perenemente ressurja. Assim desloca-se, continuamente, vossa posição na linha do progresso.
 
Pode parecer-vos uma condenação essa zona de esforço, que eternamente ressurge diante de vós, mas essa é a base das criações na eternidade; essa constância de trabalho sempre na expectativa é a única que pode garantir-vos, num regime de equilíbrio, a constância de expansão e de progresso esperados. 

O ciclo criativo tem, portanto, suas fases de descida e de repouso (cfr. a trajetória dos movimentos fenomênicos). O esforço só subsiste na zona de consciência, porque o que foi assimilado torna-se instinto e necessidade. 

Esse esforço expande-se cada vez mais distante e abarca uma riqueza própria, cada vez maior. Tendes um resultado substancial que se progride em sutileza, em poder, em concepção. A luta cria e sem luta não se pode construir. 


É a evolução que avança e com ela o seu esforço. A insaciabilidade do desejo fala-vos da verdade destes conceitos. A satisfação é sempre proporcional ao trabalho realizado, depois, aniquila-se na saciedade e no tédio, nos quais a alma se asfixia, até que reaja para emergir de novo na ação. 

Não podeis parar. A insatisfação do instinto fundamental, entre todos e pai de todos os outros, é o de evoluir, o que obriga a mover-vos ao encontro de sempre novas e mais altas alegrias.
 
Como a dor, a força, o egoísmo, e todos os aspectos do mal se anulam a si mesmos com o exercício, assim lutais não para vencer e satisfazer-vos de imediato, mas para eliminar a luta mais baixa e elevá-la a formas mais altas; esforçai-vos por superar o esforço mais pesado, para atividades mais produtivas, porque o poder de conquista, por unidade de trabalho, é progressivo. 

Eis a única direção, na qual vosso esforço não se neutraliza entre impulsos contrários, mas ao contrário, cria constantemente. Reduzo ao estado de miragem, necessária ao progresso, todas as vossas concepções sociais que hoje são metas a atingir, amanhã passado superado. 

Que coisa mais, senão um jogo de espelhos, pode induzir a inconsciência humana, ignara de seus altos objetivos, a avançar no caminho da evolução? 

A realidade profunda vos escapa e vos moveis como átomos, movidos pela Lei que age sobre vós, por meio dos instintos que acreditais serem vossos, mas que são apenas o seu comando. 



Hoje ainda não constituís uma sociedade, sois apenas um rebanho, sois um desencadeamento de forças psíquicas primordiais, que explodem confusamente, mas a explosão é guiada e deve canalizar-se para o progresso. A lei não vos pede para ser compreendida, mas impõe que seja obedecida.
 
Os choques de indivíduos e de povos são feitos para que se conheçam e se combinem em unidades mais amplas e compactas. A luta é feroz porque sois selvagens, somente quando o homem não for mais assim, a luta, também, não será feroz. 

O progresso justifica, na ordem da Lei, a desordem e o mal presentes, vossa luta e seu esforço. Riscai do universo as palavras injusto e inútil. Dizei que tudo é proporcional aos valores dos seres. 

Se a luta outrora foi física, hoje é econômica e nervosa; amanhã será espiritual e ideal, muito mais digna de ser combatida. É a luta que hoje realizo, por antecipação, a fim de elevar o homem até a lei social do Evangelho. Não acrediteis que a luta possa ser suprimida. 

Quem providenciaria, doutro modo, o objetivo da seleção, o não abastardamento do homem? 

Mas a luta transforma-se e vedes como eu também luto, como o faço denodadamente, embora em campo tão diferente, acima de qualquer forma humana de agressividade. 

Trabalhai e sofrei para atingir essa meta ainda tão distante, para formar o homem digno de compreendê-la e capaz de vivê-la. 

Trabalhai e sofrei também vós, hoje, no campo social, econômico, político, artístico e científico.