Páginas

13/04/2015


32. 

GÊNESE DO UNIVERSO ESTELAR 

— AS NEBULOSAS — 

ASTRO QUÍMICA E ESPECTROSCOPIA

 



Retomemos agora alguns conceitos já ventilados e continuemos seu desenvolvimento. Desse modo, completaremos a exposição sumária dos princípios e tornaremos a observá-los na realidade fenomênica; observaremos os fatos sempre sob novos aspectos.
 




Retomarei por um momento a fase gama em seu aspecto estático, descrevendo-vos a construção do universo físico: 

uma pausa no campo astronômico, para daí tomar impulso para conceitos mais profundos. 

Dir-vos-ei coisas que não podia expor antes de amadurecer tantos conceitos. 

Esta minha exposição cíclica progressiva que adoto, corresponde à maturação de vossa psique e à necessidade de expor-vos gradualmente a grande visão, a fim de que a assimileis, ao invés de perder-vos. Cada conceito, se não for esboçado antes, numa primeira fase apenas em suas linhas fundamentais, arriscaria perder sua unidade em infinitas ramificações colaterais. 

Cada conceito estende-se como uma esfera, em todas as direções, enquanto vossa consciência só pode perceber um de cada vez. Por brevidade, temos que escolher os principais. Minha consciência volumétrica — isto é, de terceira dimensão — num plano superior à vossa, de superfície (segunda dimensão), como vos explicarei, vejo por síntese, ao passo que vós vedes por análise. 

O finito, de que sois feitos, justifica esses retornos, a que sois obrigados, para examinar sucessivamente a realidade em seus aspectos, que nós vemos em síntese, a fim de penetrar, por degraus, além da forma que está na superfície e recobre a essência que está na profundidade.

O estudo do aspecto dinâmico da fase gama mostrou-vos na estequiogênese, o nascimento, a evolução e a morte da matéria. Caiu, desse modo, vosso dogma científico da indestrutibilidade da matéria. Compreendidos os conceitos de nascimento da matéria, por concentração dinâmica; de sua evolução química; de sua morte por desagregação atômica (radioatividade); vejamos, agora, como se comporta essa matéria na realidade do universo astronômico, nos imensos amontoados de estrelas.

Diagrama da Evolução Estelar de Hertzsprung - Russell.

 

Um exemplo no campo físico poderia ser trazido como ilustração do princípio do desenvolvimento cíclico dos fenômenos, com a volta ao ponto de partida, mas com progressivo deslocamento do sistema: é o que encontrais na trajetória traçada pelo caminho da Terra nos espaços. 

Girando em redor do sol num plano, com os outros planetas, em sua mesma direção — enquanto o sol, por translação, afasta-se das regiões de Sírius para as de Vega da Lira e para a constelação de Hércules — a Terra descreve exatamente uma trajetória que, mesmo retornando sempre sobre si mesma, jamais volta ao mesmo ponto de partida no espaço. 



Isso acontece porque o movimento solar de translação faz desenvolver-se a elipse planetária, não num plano, mas em espiral, de acordo com a direção do deslocamento do sol. 



Entretanto, observemos mais de perto um fenômeno muito mais amplo: a construção de vosso universo estelar. Já acenamos a isso a propósito do desenvolvimento do vórtice das nebulosas. Esse simples aceno merece mais profundo exame, agora que completamos o estudo da espiral. Vosso universo estelar é constituído pela Via Láctea; no plano físico, é a exata expressão do princípio da espiral. 

Muitas dúvidas vos atormentaram e muitas hipóteses aventasteis, para explicar a construção e a origem dessa faixa estelar que envolve os dois hemisférios de vossa visão celeste. Não formulo hipóteses, mas vos transmito, como o vejo, o estado dos fatos e vos indicarei de que modo, em parte, podereis controlálos.
 
A matéria, pela lei das unidades coletivas, se vos apresenta em amontoados geológicos e siderais. Todo o vosso universo físico é constituído pela Via Láctea, um sistema completo e limitado, a cujo diâmetro podeis dar o valor de cerca de meio milhão de anos-luz. O sol, com a corte de seus planetas, está situado no sistema. A via Láctea é, exatamente, um vórtice sideral em evolução.



Demonstraremos esta afirmação. O grande vórtice da Via Láctea é dado pelo seu devenir — pela lei dos ciclos múltiplos — por vórtices siderais menores, que vedes e conheceis, e nos quais podeis encontrar o caso maior. Os telescópios vos põem sob os olhos várias nebulosas, as da constelação da Balança, de Andrômeda; a nebulosa em espiral da constelação do Cão, nebulosa regular, em que a linha da espiral está claramente visível. 


Constelação do Cão Maior.


O vórtice estelar é, por vezes, como neste caso, orientado de maneira a apresentar-se de frente, às vezes obliquamente, aparecendo como um oval achatado, em perspectiva, como na nebulosa de Andrômeda; às vêzes de perfil, em sua espessura. Neste caso, assume o aspecto da seção de uma lente e as espirais, ao sobreporem-se, ficam ocultas ao olhar. Vosso sistema solar foi uma nebulosa, que agora chegou à maturidade; os planetas, cuja verdadeira órbita é uma espiral com deslocamentos mínimos, recairiam no sol, se não se desagregassem pela radioatividade. 

A via Láctea é apenas imensa nebulosa espiralóide, em processo de maturação. Vosso sistema solar, como as citadas nebulosas, faz parte dela. No âmbito da espiral maior, desenvolvem - se as espirais siderais menores. Podeis representar a Via Láctea como imenso vórtice, semelhante, embora maior, ao da nebulosa da constelação do Cão. O sistema solar está imerso na espessura do vórtice que, portanto, só aparece visível em sua seção; mas como seção, vos envolve nos dois hemisférios e por isso aparece uma faixa em todo o redor.

Eis os fatos que vos demonstram essa afirmação: é no plano equatorial da Via Láctea que se comprimem os amontoados das estrelas, enquanto nos pólos a matéria está em estado de rarefação; as estrelas multiplicam-se à proporção que vos avizinhais da Via Láctea. O sistema solar está situado mais para o centro da espiral, centro que lhe fica de lado, no plano de achatamento e do desenvolvimento do vórtice. A distribuição diferente das massas siderais, em vosso céu, é causada exatamente pela visão que conseguis, quer na maior secção horizontal, quer na menor secção da direção vertical, do esferóide achatado, que representa o volume do sistema espiralóide galático.

Galáxias satélites da Via Láctea.


Mas há fatos mais convincentes. A espectroscopia permite estabelecer uma espécie de astroquímica, que vos informa a respeito da composição das várias estrelas. Com a análise das radiações estelares, também podeis estabelecer sua temperatura, porque à proporção que esta aumenta, vedes aparecer no espectro as várias cores, do vermelho ao violeta, que é o último a aparecer. O ultravioleta revela as temperaturas mais altas. Quanto mais o espectro se estende nessa área, mais quente é a estrela observada. 

Então o espectro vos revela, concomitantemente, a constituição química e a temperatura. Baseando-vos nestes critérios, torna-se possível uma classificação das estrelas, quanto ao tipo, e uma graduação delas também em relação a seu grau de condensação, daí sua idade no processo evolutivo. Uma primeira série de estrelas é composta de gases incandescentes, como o hidrogênio, o hélio e o nebúlio (que ainda desconheceis). Deste último são as estrelas mais quentes. A matéria está no estado gasoso, a massa estelar é uma nebulosa ainda no seu início.
 
Estas são as estrelas mais jovens, de cor prevalentemente azul, e representam a fase inicial da evolução sideral do vórtice galáctico. Essas estrelas estão todas situadas nas vizinhanças imediatas da Via Láctea. Continua a gradação e abrange estrelas de hélio sempre quentes e jovens, sempre próximas da Via Láctea; depois as estrelas de hidrogênio, em que se acentua o hidrogênio e o hélio, tende a desaparecer. 

Embora nas proximidades da Via Láctea, elas começam a espalhar-se pelo céu. Menos jovens, mais avançadas evolutivamente que as precedentes, em via de condensação, emanam luz branca. A essa série de estrelas brancas (a que pertence Sírius) segue-se a das estrelas de luz amarela, nas quais os metais substituem os gases, mas sempre em temperaturas elevadíssimas, embora inferiores às precedentes. 

Estas estão espalhadas ainda mais uniformemente pelo firmamento e se acham em processo de solidificação. Entre elas situa-se vosso sol. Ele encontra-se entre as estrelas que estão envelhecendo, esperando a morte por extinção. Suas manchas já as anunciam e tornar-se-ão cada vez mais extensas e estáveis, até o fim. A última série é a das estrelas vermelhas, com a temperatura que chega a um resfriamento avançado, nas quais os gases desaparecem para dar lugar aos metais: são as estrelas mais velhas, distribuídas quase uniformemente pelo espaço. 

Entretanto, outros fatos há para observar e que se desenvolvem paralelamente aos quatro já observados:

constituição química, temperatura, condensação, idade. 

As estrelas afastam-se da Via Láctea à proporção que envelhecem. Bastaria isto, para demonstrar que na Via Láctea está o centro genético do sistema, pois é exatamente nela que encontrais as estrelas em sua primeira fase de evolução. As vermelhas, as mais velhas, encontram-se afastadas das regiões mais jovens da Via Láctea. 

Em outras palavras: existe um processo paralelo de maturação da matéria e de afastamento do centro, porque as mutações químicas, o resfriamento, a condensação e o envelhecimento significam evolução, esta corresponde a um processo de abertura do sistema, que vai do centro à periferia.
 
Acrescentemos outro fato: as velocidades siderais, partindo de uma velocidade nula para as nebulosas irregulares, aumentam gradualmente nas estrelas de hélio, de hidrogênio, amarelas, vermelhas, planetárias. Isso vos diz que as estrelas, durante o processo de evolução assinalado pelo tempo, projetam-se do centro para a periferia.
 
Acrescentai a isto tudo o exemplo do tipo de desenvolvimento em espiral, visível nas nebulosas menores, que reproduzem, em proporções mais reduzidas, o sistema maior, e tereis um acúmulo de fatos convergentes para o mesmo princípio, que afirmei ser a base da construção orgânica de vosso universo estelar.