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22/04/2015


42. 

NOSSA META — A NOVA LEI



Tom Cruise em Minority Report - 20th Century Fox - 2002.





O conceito científico de evolução, base deste Tratado, despertar-nos-á para a visão de uma nova Lei, imensamente mais elevada que a lei que vos dirige e impera no mundo animal, a lei da luta pela vida e da vitória do mais forte. Diante desta lei da força, contraponho a mais alta lei da justiça. 












Presente na estrada da evolução, que ressoa em minhas palavras, em cada fenômeno e em cada criatura do universo, esta nova lei é o degrau sucessivo àquele em que vos encontrais e vos espera como iminente superação daquela animalidade, donde deveis destacar-vos para sempre. A Nova Civilização do Terceiro Milênio está iminente e urge lançar-lhe os fundamentos conceptuais [10].
 
Como vedes, minha meta é bem mais alta que o mero conhecimento ou a solução de problemas com intuito intelectual e, muito menos, utilitário. Esta minha palavra não é mera afirmação cultural, é apenas um meio. Não venho para alardear sabedoria, mas para lançar um movimento mundial de renovação substancial de todos os princípios que hoje regem vossa vida e vossa psicologia.
 
Não mais guerra, mas paz; não mais antagonismos e egoísmos individuais e coletivos, destruidores de trabalho e de energias, mas colaboração; não mais ódios, mas amor. Cumpra cada um o seu dever e a necessidade de luta cairá por si. Só a retidão produz equilíbrio estável nas construções humanas, ao passo que a mentira representa um fundamental desequilíbrio, irremediável vício de origem que destrói tudo. 

A justiça suprimirá o gigantesco esforço da luta, que sobre vós pesa como uma condenação. O amor, que só existe no mundo em oásis fechados, isolado no deserto do egoísmo, precisa sair do âmbito fechado desses círculos e invadir todas as formas de manifestação humana. 

Muitas vezes, exatamente onde o homem trabalha, falta esse cimento que une, essa potência de coesão que amortece os choques e ajuda o esforço, impedindo que tanto trabalho se perca em agressividades demolidoras. Num homem superiormente consciente, os fins da seleção do melhor podem ser conseguidos, de preferência aos caminhos da luta desapiedada, pelos caminhos da compreensão. Existe uma nova virilidade mais poderosa para o homem: a que supera a fraqueza da mentira, a maldade do egoísmo, a baixeza da luta agressiva.
 

A inversão de vossas atuais leis biológicas e sociais é completa. A antítese é fundamental. O pressuposto da má fé e o sistema da desconfiança invadem, hoje, a substância de todos os vossos atos. Esse princípio tem de ser derrubado.
O sistema das leis formais e exteriores já deu todo o seu rendimento. É necessário passar ao sistema das leis substanciais interiores, que não funcionam por coação e repressão a posteriori, mas por convicção e prevenção; que agem, não depois da ação, tarde demais no campo das consequências e dos fatos, mas antes na raiz da ação, no campo das causas e das motivações. 

As leis substanciais interiores vão escritas nas almas, com a educação que plasma o homem. Em vosso século a luta não é mais de corpos, mas de nervos e de inteligência. A luta também evolui e já atingiu formas mais espirituais. Os tempos são maduros, pelo desenvolvimento dos meios científicos e pelo desenvolvimento das inteligências. 

Profetas e pensadores foram obrigados, muitas vezes, a não dizer ou a velar a verdade diante da multidão, sempre pronta para adulterar tudo, para reduzir tudo aos termos da própria psicologia, impondo esta como norma coletiva. Mas, o mundo hoje, em sua racionalidade, impôs-se como dever o aceitar tudo o que se demonstra lógico e racional. 

Colocou-se na posição de quem pode e deve compreender. Por outro lado, os meios ofensivos alcançaram uma potência jamais verificada na história e não se podem guiar mais pela psicologia feroz e pueril do passado. A humanidade está na encruzilhada, e não há mais possibilidade de fugas: ou compreender, ou exterminar-se. 

Este não constitui um problema abstrato e teórico, mas social, individual e concreto; problema de vida ou de morte. Minha meta é a compreensão de uma lei mais alta, lei de amor e de colaboração, que a todos una num grande organismo, animado por nova consciência universal unitária. 

Realmente não se trata de mais uma nova sabedoria, pois repito a Boa Nova, que já foi ditada há milênios aos homens de boa vontade; torno a repeti-la toda, idêntica na substância, todavia mais ampliada, no mais vasto gesto de vossa mente mais amadurecida, para que finalmente vos agite, inflame-vos e vos salve. Eis nossa meta: 

a palavra eterna, o alimento que sacia, a solução de todos os problemas, a síntese máxima.
 
Chegarei ao Evangelho de Cristo pelos caminhos da ciência, ou seja, chegarei ao Evangelho pelos caminhos do materialismo, a fim de fundir os dois pretensos inimigos: a ciência e a fé. Isto para mostrar-vos que não existe caminho que não leve ao Evangelho, para impô-lo a todos os seres racionais, tornando-o obrigatório, como o é qualquer processo lógico. 

Ele é a nova lei super-humana, a superação biológica imposta pela evolução da humanidade neste momento histórico, quando está para surgir a nova civilização do terceiro milênio. Chegou a hora em que estes conceitos, esquecidos e não compreendidos, pregados mas não vividos, tenham que explodir por potência própria, no momento decisivo da vida do mundo, fora do âmbito fechado das religiões, na vida em que o interesse luta, a dor sangra, a paixão transtorna.
 
O evangelho não é um absurdo psicológico, social, científico. Não é negação, mas afirmação de humanidade mais elevada, no nível divino. A coisa simples e tremenda que o homem de hoje tem de fazer, na encruzilhada dos milênios, é colocar a alma nua diante de Deus e examinar a si mesmo com grande sinceridade e coragem. 

Se vós, almas sedentas de ação exterior, de movimento e de sensação, não sabeis ouvir no silêncio a voz das grandes coisas que falam de Deus, e quereis explodir desta íntima vida do espírito para vossa exterior realidade humana, e agir, gritar, conquistar e vencer, ainda que com o braço e a ação, pois bem, eu vos digo:
 
“Levantai-vos e caminhai para vosso inimigo mais acerbo, para aquele que mais vos traiu e maltratou e, em nome de Deus, perdoai-lhe e abraçai-o; ide àquele que mais vos roubou e perdoai-lhe a dívida e, mais ainda, dai-lhe tudo o que possuís; chegai àquele que vos insultou e dizei-lhe, em nome de Deus: eu te amo como a mim mesmo, porque és meu irmão”

Dir-me-eis: 

“Isto é absurdo, é loucura, é ruinoso. É impossível, na Terra, esta deposição de armas!”
 
Eu vos digo: 

“Sereis homens novos somente quando usardes métodos novos. 

De outra forma jamais saireis do ciclo das velhas condenações, que punirão eternamente a sociedade por suas próprias culpas. Pela mesma razão que houve uma vítima na Cruz, hoje a humanidade tem de saber oferecer-se a si mesma, para esta sua nova, profunda e definitiva redenção. Sem holocausto jamais haverá redenção. 

Aí, nesse mundo louco que se arma, com perspectivas cada vez mais desastrosas contra si mesmo, com meios já tão tremendos em vista dos hodiernos progressos científicos, que uma conflagração não deixará homem nem civilização salvos sobre a Terra, aí, onde o homem age assim, só existe uma defesa extrema: o abandono de todas as armas”. Mais tarde veremos como.
Dizeis-me: 

“Temos o dever da vida”.
 
Eu vos digo: Quando, com espírito puro, proferis

Em nome de Deus, a terra estremece porque as forças do universo movimentam-se

Quando sois verdadeiramente justos e quando, inocentes, sois atingidos pela violência, que usurpa a vitória de um momento, o infinito precipita-se a vossos pés para gritar-vos vitória e elevar-vos para o alto como triunfadores, na eternidade, fora do ínfimo átimo do tempo em que o inimigo venceu.
 
Eis o que peço à alma do mundo. Sua alma coletiva, una e livre como uma só alma, pode escolher; de sua escolha dependerá o futuro. Um incêndio tem de alastrar-se, tão forte que derreta todo o gelo de ódio e de egoísmo que vos divide, vos torna famintos, vos atormenta. 

O mundo, de um hemisfério ao outro, escuta-me e minha voz conclama todos os homens de boa vontade. O novo reino é o esperado Reino de Deus, uma construção imensa que deve realizar-se não nas formas humanas, mas no coração dos homens; criação antes de tudo interior, que se opera ao tornar-vos melhores. Se não compreenderdes, a marcha do progresso do mundo demorará milênios.
 
Este repouso que desejei no meio da jornada, esta mudança de argumento e de estilo, depois da fria análise científica, esta explosão de paixão é para que eu seja compreendido e “sentido” por todos. 

Desejei esta pausa para que este Tratado, complexo para os simples, supérfluo para os puros de espírito que já compreenderam, recorde à ciência que ela não nasceu somente para mostrar-se orgulhosamente, mas que tem a responsabilidade moral de guiar as consciências; recorde à ciência que dela falo e a supero com uma finalidade bem mais alta que a do simples conhecimento e utilidade que a impele. Uma finalidade que a ciência ignorou muitas vezes: a ascensão do homem para os mais altos destinos.

[10] - V. o volume: A Nova Civilização do Terceiro Milênio. (42.1)