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22/04/2015


43. 

OS NOVOS CAMINHOS DA CIÊNCIA





Não há dúvida que para vós, homens de razão e de ciência, em vosso tempo e de acordo com a vossa atual psicologia, trata-se de uma linguagem bastante estranha a que unifica todos os problemas: os do saber e os da bondade, e os coloca lado a lado, e funde ciência com Evangelho, acima de vossas distinções, numa mesma Síntese. 






Mas todos os vossos sistemas racionais e científicos são filhos da psicologia de hoje, que não é a de ontem nem a que será amanhã; vossos métodos e pontos fixos conceptuais passarão, como outros passaram, e tudo será superado. 

O tempo vos modifica, ó filhos do tempo, e vos impele cada vez mais para o alto. Como evolvem as formas de luta e as do sofrimento, assim evoluem o pensamento e suas formas, porque a criação é contínua e o dinamismo divino está sempre presente.
 
Àqueles que, no campo de todas religiões perscrutam para encontrar erro e condenar, eu digo que coloquem com sinceridade sua alma diante de Deus e escutem a voz íntima que diz: esta palavra é verdadeira. Onde existe, perguntovos, onde existe na Terra uma força que verdadeiramente vos sacuda e arranque do cálculo contínuo de todos os interesses humanos? 

E quem faz, na Terra, um esforço energético, heróico, decisivo, para salvar os valores morais?
À ciência, que aplica o ouvido para ver resolvidos, com suas próprias palavras, problemas tão desusados para ela, eu digo: chegou a hora de mudar de caminho. Porque é inútil, é loucura acumular milhões de fatos, sem jamais concluílos. A síntese urge e a ciência cala-se; olha suas colunas de fatos, colunas de um templo imenso, cheio de silêncio, e cala-se.
 
O apriorismo sensório amarra na Terra suas asas e limita-lhe as vias da pesquisa; o apriorismo da dúvida que, se olha para a objetividade, fecha ao espírito os caminhos rápidos da intuição e da fé. Mente e coração exigem uma resposta e os últimos efeitos que tocais com vossos sentidos só podem dar-vos os últimos reflexos daquele incêndio que permeia o
infinito. 

Não é acumulando fatos que se pode dar uma resposta; o princípio vital que anima uma árvore jamais será encontrado pela observação e enumeração de suas folhas, pois ele é algo de íntimo, de profundo, de imensamente superior e de essencialmente diferente de qualquer aparência sensória. Assim, na zoologia e na botânica, anatomizais cadáveres. Mas que podem dizer-vos as formas de vida, quando as matasteis, expelindo-lhes o princípio substancial que as plasma e as rege, que tudo resume e determina, o único que pode exprimir o significado do fenômeno?
 
Se na ciência existe uma impotência apriorística para concluir, os fatos já demonstraram; por outro lado, o interesse e a ambição — com frequência o único móvel secreto de todo trabalho — fecham à alma os caminhos da compreensão, levantando uma barreira entre o Eu e o fenômeno. A atitude psicológica do observador torna-se assim uma força negativa e destruidora. Como podeis esperar que vos abram as portas do mistério, se vós mesmos ergueis barreiras com vossa posição de desconfiança, se partis da negação, se está tão inquinada a primeira vibração de origem, segundo a qual tomam sua direção todas as formas de vosso pensamento? 

Deveis compreender que a dúvida, o agnosticismo são uma atitude negativa psicológica, que desagrega o fenômeno, e é precisamente essa posição que vos fecha as vias de sua compreensão. Os fenômenos mais sutis e mais altos apagam-se, automaticamente, quando deles vos avizinhais, por isso, é interditado o ingresso da ciência nos campos mais altos. É indispensável a presença de um fator, que a ciência ignora de propósito: o fator espiritual e o moral. São eles a condição fundamental de sintonização e de potência de vossa psique, que é o instrumento de pesquisa.

 


O futuro da ciência reside no mundo mais sutil do imponderável. Se não levardes para a pesquisa científica esse estado de espírito, que nasce apenas de uma grande paixão pura e desinteressada, jamais avançareis um passo. Esta atitude de vosso Eu é fundamental, porque é lei que, onde faltam sinceridade de intenções e impulso de fé, as portas do conhecimento se fecham. O mistério tem suas defesas e suas resistências e somente um estado de vibração intensa pode ter a força de superá-las. 

A verdade só responde a um apelo desesperado de uma grande alma que invoca a luz para o bem. Para quem olha ávido e curioso, o olhar embaça-se e as portas do conhecimento permanecem trancadas. A Lei, mais sábia que vós, não admite no templo os incapazes e os imaturos; o conhecimento, arma poderosíssima, só é concedido a quem saiba fazer bom uso dele. 

Na Lei, nenhuma desordem é permitida e os inferiores não são admitidos para trazer perturbação com sua inconsciência fora de seu campo. É lei, pois, cada progresso seja merecido e a cada conquista corresponda um valor substancial; a verdadeira ciência não consiste num fato exterior, repartido com todos, acessível a todas as inteligências, mas é a última fase de uma íntima e profunda maturação do ser. 

Na conquista do conhecimento, como em todas as maturações biológicas, não há atalhos possíveis, mas é indispensável desenvolver toda a trajetória do fenômeno. Deveis admitir que o universo existe perfeito e assim funciona há muito tempo, independentemente de vosso conhecimento, que nada cria e nada desloca, senão vossa posição. Doutra parte, não haveis certamente de presumir que o presente de vossa ciência contenha todo o saber possível.
 
A experiência do passado vos ensina que tudo pode mudar, dos pés à cabeça, com resultados imprevisíveis, a cada momento. Sabeis, por experiência, que as revoluções no campo do saber são normais em certas ocasiões


Esquema da tese de Thomas Kuhn.


Não é lógico e consentâneo com vossas teorias materialistas evolucionistas, que a natureza, chegando a uma nova maturação, toda estendida para o futuro como tentáculo para o porvir, em antecipação às formas evolutivas que esperam, em embrião, lance um tipo de homem novo, que possa conceber tudo diferentemente? 




Não é logicamente possível que, dessa forma, toda a técnica mental humana possa mudar, tornando normal o que hoje é exceção, isto é, a intuição do gênio, a inspiração do artista, a super-humanidade do santo? As fases evolutivas próximas de vós tocam, depois da fase orgânica, a fase psíquica. 

Como vedes, as novas concepções desta Síntese, mesmo para a mentalidade dos céticos e dos materialistas, apresentam-se com todos os caracteres da racionalidade e terão de ser reconhecidas como aceitáveis, pelo menos como hipótese de trabalho. Isto também nas últimas conclusões de que vos falei. 

Não só não contradizemos os princípios e postulados demonstrados pelos fatos e aceitos pela ciência, mas os fundimos organicamente numa unidade universal. A ciência é aqui combatida, corrigida e elevada com seus próprios métodos, com sua própria linguagem. O cético encontra, neste Tratado, não apenas os caracteres das possibilidades, mas os da maior logicidade. A razão fica satisfeita no íntimo deste organismo, que harmonicamente dá a razão de tudo. 

Esta Síntese pode ser elevada à teoria, porque é o único sistema que dá uma explicação completa e profunda de todos os fenômenos, mesmos daqueles que não podeis experimentalmente controlar. Não importa se tudo o que digo não possa ser contido dentro de vossas categorias mentais; se não corresponde àquele arquivamento de conceitos, habitual de vossa forma psíquica. 




A limitação de vossa razão e a cegueira de vossos sentidos vos levam, naturalmente, a negar tudo o que a eles escapa, mas isto não importa. Eles são formas relativas, que superareis. Diante da imensa verdade, eles são, mais do que meios, uma prisão que vos encerra e vos limita. Mas, bem depressa vosso ser se libertará, e a ciência, quer queira quer não, superará sua posição atual.